segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

In Progress


É preciso escrever.
Chego em casa, o computador me encara. Depois do almoço eu tomo um café, apoiando o queixo com as mãos pensando na saudade que eu sinto de escrever no papel. Me pedem linguística, tradução, literatura, enquanto minha mão escreve sempre o mesmo nome no momento em que toca o papel.
Não me reconheço mais. E me assusto com a quantidade de descrentes.
E depois me lembro que eu mesma sou uma.
Mas não deixo que me estraguem. Resolvi ir contra minha própria personalidade e encarar a realidade que me escancara a porta. Na faculdade me pedem pra escrever. Sou grata. Mas quando é preciso soltar o ar, nos momentos em que eu travo e preciso seguir adiante e continuar a escrever sobre: Lingüística, tradução, literatura, é preciso levar as mãos ao papel e deixar que elas escrevam o mesmo nome inúmeras vezes.
Ai me reconheço. E só assim recomeço de onde parei.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Hometown Blues


Minha casa nova é romântica e tem as janelas da frente escancaradas pras ruas movimentadas de Jardim da Penha. E milhares de carros passam la embaixo enquanto eu tento exibir vida nova pra todos do novo bairro. Da janela do meu quarto, porém, eu só vejo uma parede bege, mas tenho um vizinho que toca saxofone todo dia à tarde, e isso compensa. A cama dobrou de tamanho pra caber all of my demons. E agora ando fazendo planos pra deixar o apartamento bonito com algumas flores perto da janela, e uma rede na sala, pra combinar com a nostalgia que existe nos ares daqui. Jardim da Penha é cidade de interior, onde todos andam tão aleatórios e soltos pelas ruas que ninguém se encara. Aqui somos todos iguais, e mais sinceros que o resto do mundo. O bairro é melancólico, e todo mundo parece sentir falta de algo, de alguém ou de um tempo passado. Não importa se são famílias seculares, velhinhos morando sozinhos nos prédios onde nasceram, ou pessoas pelos bares na madrugada, pelos loucos, pelas putas, ou por mim, que não tenho a família por perto. Não importa quem seja,  aqui nossa solidão é escancarada. Esse é o motivo pelo qual nos juntamos, todos, no mesmo lugar, e andamos no meio da rua nos debatendo, porque precisamos de contato. Porque somos todos um pouco louco, mas estamos livres e estamos cientes, por isso nos deixamos em paz. Por isso me sinto a vontade com tudo por aqui. E por isso, posso andar até a janela e mostrar vida nova, assumida, pra minha vista bege, ou pra todos os carros que passam nas ruas movimentadas la de baixo. Porque tudo está em seu devido lugar. Não preciso esfregar os pés pra voltar pra casa. Aqui é casa.

sábado, 29 de outubro de 2011

O tempo engatinhar. Do jeito que eu sempre (te) quis

Engatinha de mansinho, que esse é o jeito que eu sempre (te) quis. Sua fumaça em volta da luz, e suas pernas em volta de mim. Chega até aqui, enquanto eu me enrosco na decisão de passar rápido pelas soluções imediatas. Pelas (re)soluções que batem na minha porta e me oferecem um sorriso de quem anseia o medo de estar na frente de tudo. O meu medo de estar na frente de tudo. Chega até mim e me faz ver que o caos, apesar de parecer reinar no que me diz, reina também no que me faz feliz. Deixe que engatinhe o tempo entre nós. Porque os amores de quem ama por trás só são assim tão rápidos porque tentam nos lembrar que só o que é lento é eterno. Que você é lento. Que você é eterno. E que o seu ser-lento bate de frente com o meu jeito, só pra (me) incomodar. Que o seu ser-lento agride minhas manias, e minhas manias agridem tua forma de andar. São os meus traços que brigam com seu jeito de viver a vida. Uma guerra de manias, de feridas, de paixões, e de eterno deleite. E que me mostra o quanto assusta ver que não há ponto comum entre meus trejeitos e seu modus operandi. Mas que deixa claro também que é quando você me contraria que eu gosto. Que é quando você me contraria que eu gozo. Aperta o meu rosto então, e não desvia o seu olhar. Depois escorre pelos meus quadris. Pra me fazer lembrar que talvez o melhor mesmo seja engatinhar...

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Something is about to change


Domingo à noite. Suspiro bebendo cerveja enquanto escuto as chansons de Edith Piaf e penso o quanto a vida está pra mudar. Vou ter um quadrado no mundo onde todas as coisas serão possíveis. Meu quarto.  Eu tenho sonhos demais pra essa casa. E tenho medo de quando eu tiver a minha própria janela, onde eu possa, com as contas do fim do mês na mão, reclamar da minha vista bege. Essa hora chega baby, chegou. E a certeza infantil, no auge dos meus 22 anos, de que tudo dará certo no final. Porque tem que dá! Só por isso. E uma vontade de engolir o mundo... Mas não vou engolir. Vou tomar com café.  Porque de vez em quando, aqui nesta casa, o ar me escapa. E é como se eu quisesse pegar o ar la no fundo, e não viesse nada. 

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Tangerine, tangerine..


"I only find it slips away to grey..."


 Mas acaba que fica tudo certo no final, acaba que sempre surge um jeito. Ainda que seja como o meu cachorro que torce o pescoço pro lado e abaixa levemente o olhar quando quer carinho. É o jeito que ele dá. Por hora, isso é tudo o que ele precisa. 
E quando, no fim do dia de uma terça como outra qualquer, meus amigos me fazem falar sobre coisas que eu já nem me lembro mais, tudo parece ficar um pouco cinza. É que a gente acaba por esquecer, ainda que certas obviedades nos gritem aos ouvidos verdades inquestionáveis - dessas que a gente nunca presta muita atenção. 
Todo mundo sabe que não da pra sair correndo se quiser evitar o tropeço. Sabe que é melhor não falar nada quando não se tem nada pra dizer. E que, supostamente, não há sintonia em coisas dissonantes. Parece tudo tão obvio. E a gente teima em esquecer. Parece óbvio, e eu teimo em esquecer! 
Talvez, tudo o que eu preciso é aprender com o meu cachorro. Deixar a hiperatividade constante de lado, torcer o pescoço e abaixar o olhar. Só isso. E pensar que no final tudo fica um pouco cinza, mas ficam também algumas lembranças e boas trilhas sonoras. Ou apenas páginas em branco e frases soltas que tentam se esconder atrás do cheiro de tabaco misturado com perfume que fica nas pontas dos dedos. Porque isso é o que mais comove, musica e cheiro. O resto, todo o resto, escorre pelos poros e vai embora pelo ralo. Sobram apenas cds, livros, fotos amareladas, algumas lagrimas e cheiros. Like Tangerine que diz que it slips away to grey... Mas hoje eu aprendi com o meu cachorro a torcer o pescoço pro lado e abaixar levemente o olhar pra pedir carinho. E por hora, isso é tudo o que eu preciso saber.

"...Ninguém tem obrigação de satisfazer ao teu desejo pela simples razão de que você supõe que teu desejo seja absoluto. Foda-se seu desejo, ora!" (Caio F[ucking] Abreu)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Billieoscopia



Aos 16 anos, em noites assim, eu ouvia essa música impunemente, jogando fumaça pro alto e procrastinando o horário de estudo. Resolvi repeti a dose. Um dia morro disso, mas prefiro acreditar que é o cigarro...

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Leia-me

"Não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou qualquer coisa. Venha à mim com corpo, alma, vísceras, tripas e falta de ar" Caio Fernando Abreu

Esquece todos os que vieram antes. Todos os textos escritos. Toda gente que acabou virando texto. E deixe que eu te faça invadir o meu papel. Pra eu saber que não tem mais jeito. Porque eu sou assim. Eu tenho essa mania de querer colocar minha assinatura em tudo o que eu quero ter certeza de que existiu. Tome esse texto como se fosse o primeiro, pra que eu ache que virou fato documentado. Me deixe destilar letras, até que eu não saiba mais o que sou eu e o que é palavra. Porque eu vou gostar e deixar de gostar destas sílabas ainda um milhão de vezes. Vou escrever textos de páginas inteiras e depois sair correndo. E só voltarei aqui aos poucos. Após reaprender a me decifrar em palavras - como masoquista que sente prazer quando dói. Afinal, literatura precisa causar alguma sensação, senão não serve pra absolutamente nada.
Então deixe que eu te escreva, mais uma vez, como se fosse a primeira vez. Deixe que eu escreva sobre mim, sobre você, ou sobre qualquer um que tenha vindo antes. Te reconheça em minhas linhas, ainda que seja nas mais tortas delas. Mas te ache. Em vísceras, em letras, em tripas, na alma e nas palavras escondidas em baixo das minhas dobras. Seja como ficção, ou como sentença gramatical eternizada. Mas reconheça-te por aqui. E entenda que há em mim uma necessidade vital de escrever. Não como quem escreve pra existir, mas sim como quem precisa disso pra poder ter a certeza de que vai conseguir resistir.  
"Escuta bem, vou repetir no seu ouvido, muitas vezes: a única coisa que posso fazer é escrever, a unica coisa que posso fazer é [te] escrever..." Caio Fernando Abreu

sábado, 17 de setembro de 2011

"Que bom é bom demais pra ser aqui..."

Vitorinha ontem sorriu. Sorriu pra dentro, pra si. Sorriso de ilha que se cerca pra proteger todo tipo de gente que se encontra aqui. Inclusive ela, as putas de camburi, os pombos na calçada e os loucos da madrugada. E ai fica fácil pertencer a cidade. E a um monte de gente também. Fica fácil perambular pelas ruas e pelos corações alheios, amar a todos ao mesmo tempo, e se dividir entre sabores. Se dividir entre a doçura das coisas que vêm aos poucos e a acidez das que chegam aos montes. Porque ontem a cidade estava sorrindo, sambando e suando. Estava transparecendo no olhar que deixava escorrer pelos poros qualquer forma de preocupação, qualquer motivo de tristeza ou solidão. E enquanto suas pessoas se ajeitavam em um estado de samba interno, ela ria de felicidade. Só não da pra dizer quem riu mais, se foi ela ou se foi a cidade.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Aliens

Eu nunca vi um alien no meu quintal. Alias, não sei muito bem como as coisas funcionam depois do muro que cerca a minha casa, para além dos limites da minha rua. Daqui do meu quintal, nem um sinal. Nem uma dica se quer. Apenas um sol enganador do lado de fora da varanda. Daqueles amarelos e estupidamente claros, mas que gelam as pontas dos dedos e do nariz. E que te fazem ficar em dúvida se vai pra rua ou se fica em casa, jogado no sofá. O sol que engana, a mente que engana, e a mania inútil do ser humano de querer provar sempre que sabe mais do se deve. De repetir em voz alta, incansavelmente, falsas verdades, pra ver se assim elas começam a fazer algum sentido. Não sei direito como as coisas funcionam do lado de fora, mas me irritam pessoas que não fazem a mínima idéia do que acontece dentro delas. Porque a luz do sol de inverno é sépia, mas a claridade incerta de quem não se conhece é preta e branca.

domingo, 11 de setembro de 2011

"Na rua deserta de rumores: domingo." Caio F.



Antes era assim. Quando eu dizia alguma coisa, ele olhava primeiro pra minha boca, depois pra mim. Um gesto distraído de quem se vira pra prestar atenção no que a outra pessoa vai dizer e demora pra encontrar um ponto fixo pro olhar. Por pura distração. Eu sabia. Mas o meu corpo reagia àquilo sem pensar. De lá pra cá, eu mudei pouco. Ele mudou demais. Não sei se por genética, radiação ou por obra do satanás. Mas eu que desconfiava tanto do seu potencial pra loucura, parei de duvidar. Porque hoje ele é desses que sabem que o segredo está na própria malandragem. Que aprendeu a usar meia dúzia de palavras difíceis e a jorrar por ai filosofias baratas de mesa de bar. Mais um cheio de músicas tristes e histórias complicadas sobre mulheres caóticas e confusas que passam pelo seu sofá. Enquanto eu mudei pouco, ele mudou demais. Eu continuo sentada com aquele meu livro que há anos eu leio, sem saber quem vai morrer no final. Já ele, encheu os cinzeiros, mudou de roupa, de cabelo, de conversas e até a forma de sentar. Mas quando eu falo, ele ainda se distrai e olha primeiro pra minha boca. E meu corpo, meu corpo continua reagindo a isso sem pensar...

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Complexo de Bovary

"With her ever-changing moods [...] she was the amoureuse of all the novels, the heroine of all the plays, the vague "she" of all the poetry books."
 (Gustave Flaubert, Madame Bovary)



Eu só queria te dizer que mal dou conta de mim.
E entre um dia e outro de tédio, a incapacidade de reprimir a vontade de acabar com as minhas próprias vontades. Uma tarefa prazerosamente complicada - ofender a moral, a religião e qualquer coisa que rodeie o meu umbigo na tentativa de provar uma quebra inútil de conceitos obsoletos. A fuga constante da  vida morna de sentimentos e a prática estranha de torturas literárias e musicais. Buscar a nostalgia pra longe dos Charles* e achar que a vida as vezes é difícil demais. Mas difícil demais sou eu, que não nasci com jeito pra coisa! Que falo alto, e falo demais. Como quem tenta ofuscar uma certa impotência diante do discurso. Difícil sou eu que não consigo aceitar apenas o que me cabe, e que às vezes preciso me destapar um pouco pra deixar que vejam que tenho uma tatuagem nas costas. Eu, que volta e meia enfio os pés pelas mãos, escondo sentimentos e faço o que não devo. Depois volto atrás, com a cara lavada, e tento colocar as coisas de volta no lugar. É complicado. E por isso eu queria te dizer que eu mal mal dou conta de mim. Mas, ainda assim, dou conta de você!

domingo, 14 de agosto de 2011

Once upon a Caio F time.....

"O essencial sempre ficará no fundo, esmagado pela superficialidade." [Caio Fernando Abreu]


Me lembro como era bom amar Caio F. E quantas vezes eu escrevi que todos deveriam amá-lo. Agora, me arrependo um tanto do que eu disse. Caio virou literatura Fast-food, virou comer com culpa, comidinha rápida do twitter e aplicativo do Facebook. Uma popularidade falsa, de peso morto, dispensável e "ir-remediável". Todos conhecem, poucos entendem. And that's a pity...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Pequena expressão de saudade silenciosa:

Quando eu disfarço "você me faz falta" te ignorando...

terça-feira, 31 de maio de 2011

Apple Martini

... E mesmo desse jeito a gente aceita.
Aceita que alguém chegue, por puro acidente, e invada a nossa vida. E nos sufoque o silêncio, depois de questionar nossa moral. Que chegue e nos arranque o direito de decorar nosso rosto, nomear nossas pintas e nos beijar os olhos e as pontas dos dedos - E nessa brincadeira, acaba descobrindo a maneira mais eficaz de nos tirar do sério. E tira! Mas a gente aceita. Aceita e permite que alguém venha pra deixar nossa cama menor e puxar nosso edredom. Alguém que chega, e se instala. E se parte, deixa um vazio imenso. Porque dói deixar ir embora. Mas a gente sabe que por ventura dói, e mesmo assim a gente quer. Porque amores começam e acabam, então a gente aceita. Ainda que cheios de marcas. Porque o corpo aprende antes do que a mente que o significado do amor está localizado naquele pedaço do pescoço onde o cheiro não é igual a mais nada no mundo. O corpo sabe, e te ensina a estar sempre próximo. Cada vez mais junto, deixando sobrar apenas um espaço entre dois corpos onde caiba uma verdade absoluta. Isso basta. E exatamente por isso, a gente acaba aceitando que alguém chegue, invada nosso espaço e vire, acidentalmente, o grande amor da nossa vida.

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P.S.: Um dia dos namorados recheado de açucar e de afeto pra todos os casais. (:

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Lar é onde o coração está...


Santa Lúcia me acalma. Santa Lúcia caos me acalma. Santa Lúcia foi o começo de muita coisa pra mim. O começo de muita vida, de idas e vindas, de milhares de textos e de grandes descobertas.
Santa Lúcia me dá, todo dia, estranhos que não me pertencem e famílias centenárias, que estão aqui antes mesmo de Santa Lúcia existir. Eu mesma, estou aqui há muito (do meu) tempo. Misturada entre meus vizinhos solitários e as putas e loucos do bairro. Cresci por aqui, observando a diferença gritante da minha ponta da Av. Rio Branco com a ponta de lá da Praia do Canto. Do lado de cá, ainda tem carroça na rua, botecos de esquina, poucos prédios altos e uma vista (quase) linda de morros e casinhas de madeira, que me despertam sensações etéreas e eternas.Sou apegada a essas coisas, porque foram elas que me criaram, junto com as paredes que me cercam e o cheiro do meu quarto. Então não estranhem se um dia eu afirmar, sem dúvida alguma, que o umbigo do mundo é a minha rua.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Aftas

Acordei com refluxo e aftas. Minha mãe diz que isso é culpa da ansiedade. Eu diria que tem um pouquinho de raiva misturada nisso. Porque a raiva sempre estoura na minha boca e no meu estomago. Ficar esse tempo parada tá me abalando. Ai eu entendo porque ando teorizando a pressa e a espera. Porque a prática está me enlouquecendo! Estou começando a ficar cansada, fico 24h me cobrando e repetindo pra mim mesma "preciso fazer alguma coisa". Não gosto quando me sobra tempo. Funciono no muito, no que transborda, ficar parada muito tempo me deixa inquieta, ansiosa. E eu somatizo ansiedade, me dá aftas. Por isso tenho postado mais textos por aqui, me sobram tempo e imaginação demais. Mas a minha mãe vive repetindo, que isso é culpa da ansiedade, das aftas, do refluxo, e que eu devia "jogar o blog fora" e comprar um diário. Talvez um dia eu faça isso. Por enquanto, continuo insistindo. E pensando em voltar pra academia.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Substantivo feminino (de esperar)

"Tenha um objetivo e, mais cedo ou mais tarde, você acabará no divã de um psicanalista. Minha visão é a de uma vida sem objetivos. Essa é a visão de todos os budas. Tudo simplesmente é, por nenhuma razão em absoluto. Tudo é simplesmente um completo absurdo. Se isso for entendido, então qual é a pressa? E pressa pra quê?"  [Osho]


Andei refletindo sobre isso, e acho que só os monges e os sábios aprendem a esperar com graça.

O resto do mundo tá sempre inquieto, querendo interromper o fluxo dos acontecimentos. Estamos imediatistas, tudo tem de ser para ontem e com muita motivação. Afinal, tempo é dinheiro, certo?! Mas estamos com pressa de que? E será que estamos mesmo com pressa, ou simplesmente perdemos a capacidade de esperar? Esperar nos lembra que não estamos no comando. Que não temos controle sobre tudo. E parece que ninguém tá afim de entrar no trem fantasma sem poder fechar os olhos! Vivemos em uma sociedade onde o instantâneo e a busca da felicidade imediata são valores predominantes. E no meio disso, acabamos ficando escravos das nossas vontades, ansiosos e impacientes. O que pra mim, parece ser um indicador, não de limites inerentes ao ser humano, mas da nossa aparente insuficiência de ter esperança.

Não tinha certeza, mas imaginei que espera e esperança de alguma forma se fundissem etimologicamente. O Michaelis confirmou - "Esperança: Substantivo feminino (de esperar)". E ai, a linguagem nos mostra, mais uma vez, que ela sempre encerra em si informações muito mais profundas do que pensamos saber - ou prestamos atenção! A esperança morre, justamente, quando deixamos de esperar em função de uma presunção. Em latim: praesumptio, que significa “tomar antes”, “antecipar”. Antecipamos o desfecho da situação de acordo com nosso grau de desespero, e ai, perdemos a esperança e com ela a capacidade de esperar que as coisas realmente se concluam. Agora, Tudo que fazemos, é porque escolhemos fazer, ainda que inconscientemente. E que bom! Afinal a escolha é nossa base sólida, já que se trata de uma das poucas coisas que ainda temos controle: nossas decisões. Com a espera(nça), então, não é diferente. Você tem que escolher esperar. Escolher sair do mode on e entrar em standby. E, quem sabe, aceitar que você não se move no tempo, e, sim, o tempo que te move.

Maaaaas, como diria a mãe loira do funk, “Quer ficar com a perna grossa? Tem que ter disposição!” (rsrs)

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P.S.: Mais um texto hoje. Acho que ligaram as turbinas aqui dentro. De madrugada eu crio, de dia eu reflito. Gosto disso!
P.S.2: Textinho #autoajudafeelings bagaraleo mas tá tudo certo....

"There was no in between for Cass." [Bukowski]


Quando isso aconteceu já tudo estava perdido.
Ana sabia.
E por isso entrou no primeiro trem e se foi.
Ninguém sabe pra onde.
Na carteira de Álvaro, uma foto dela ficou guardada.
Às vezes ele parava pra olhá-la.
"Mulher bonita assim o diabo respeita."
Álvaro também.
Sabia então, que onde quer que ela estivesse, estaria bem.
E que, talvez, nem tudo estivesse perdido.
Mas estava.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sobre dias de chuva...


E tá chovendo outra vez. Merda de chuva. Deixa a gente com cara de tédio. Eu por exemplo, tenho quase certeza que fico cinza em dias de chuva. To falando da pele mudar literalmente de cor, e me deixar cinza parecendo cimento. Talvez só eu fique cinza. Mas to-do-mun-do começa a por os clichês pra fora depois de cair o primeiro pingo no meio da testa.

Aí vale fumar um Malboro light olhando pro tempo ruim, tomar uma cachaça pra esquentar o corpo, e até ficar mal humorado e mandar uns quatro tomarem no cú – só pra começar. E fora essa encenação toda, ainda tem aquela vontadezinha de, de repente, começar a querer contar histórias inúteis do seu cotidiano pra qualquer pessoa que fique espremido no mesmo metro quadrado que você tentando se proteger.

Já reparou que em dias assim, parece que rola um pacto mutuo implícito, de que a barbeiragem no transito foi liberada?! Vira um verdadeiro caos! Trânsito parado e um bando de imbecil buzinando atrás de você. Se começa o pé d'água e eu to dirigindo, querido, pode esperar, que meus modos vão escorrer junto com a chuva. “Ta com pressa passa por cima, porra!” Você já ta ali, completamente cego, grudado no volante, com limpador de para - brisa sacudindo em velocidade máxima na sua cara, o vidro embaçando e o infeliz atrás de você ainda fica te cornetando?! Manda outros três tomarem no cu. Três, até você perceber que é um velho que tá dirigindo o carro na sua frente, ai, você pode mandar o velho tomar no cu também, porque “com esse temporal” o vovô vai dirigir a quase 0km/h, com toda certeza.

Ok, talvez só eu fique cinza. Mas to-do-mun-do começa a por os clichês pra fora. E acho até que, na verdade, as pessoas não ficam mais introspectivas e caladas em dias chuvosos, pelo contrario, elas falam mais, resmungam mais, bebem mais, fumam mais e (se) fodem mais - vamos combinar!


*****

P.S: Falar "cu" tantas vezes num mesmo texto é tão legal quanto criança que aprende que falar palavrão é feio e (só por isso) fica repetindo o dito-cujo o dia inteiro. hahahahahahahaha (:

Fala Caio...

"Eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio de uma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta mas tanta coisa que eu vou ficar calado um tempo enorme só olhando você, sem dizer nada, só olhando e pensando, meu deus mas como você me dói de vez em quando!" (Caio Fernando)

domingo, 27 de março de 2011

Fly me to the moon and let me play amoung the stars...


Nos últimos 3 anos, virei o ano com a sensação de que nada havia mudado. De que a vida tinha permanecido milimetricamente a mesma. Mas sei que no meio disso existiu a vontade de querer dar sempre o melhor de mim, e de ir lá e fazer, seja o que fosse ou porque fosse. Existia a vontade de tentar, de experimentar. E ser o melhor que pudesse ser. E de fato fui lá e fiz. De tudo um pouco. Mas só o que me era interessante, o que me era de vontade própria, e principalmente, o que me era bom. E no mês em que a lua se tornou a maior de si, acho que também o fiz. Tornei-me a maior de mim. Alcancei o meu perigeu lunar. Isso porque nesses últimos anos, desconstruí o discurso que ouvi em algum lugar como se fosse o certo pra mim. E fui em busca de algo que me fizesse essencialmente sentido. Segurei na minha própria mão e fui indo. Até que conseguisse torcer meus membros, lamber minhas feridas, encarar meus problemas, e, também, entender que as palavras que agora escrevo querem mesmo é falar do cotidiano - do doce cotidiano que posso me entregar todos os dias de manhã. Mesmo que ainda não me prive de dizer o quanto uma taça de vinho pode potencializar todo tipo de paixão, o quanto é perigoso juntar os dois ou o quanto dessa mistura eu consigo suportar. Mas do lado de cá está tudo certo. E enquanto a vida for doce, pedirei outra garrafa. De vinho e de paixão.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Porque o feminismo ainda é uma farsa...

Não vou começar com aquela conversa de que mulheres são condicionadas desde a pré-história a cuidar da casa e dos filhos enquanto o homem se encarrega da proteção e da caça. Porque livros no estilo “Why men don’t listen and women can’t read maps” existem aos montes por aí. Mas ando achando que é nesse discurso que reside o motivo do feminismo ainda ser uma completa farsa.

A verdade – clichê ou não - é que as mulheres ainda carregam a cruz inconsciente de que são metades, de que a razão de sua existência é a de se dar, de se doar à família, aos filhos ou à outra pessoa. Acontece que, enquanto isso, o (ir)racional tenta segurar a pose de mulheres bem resolvidas do século XXI - ab-so-lu-ta-men-te independentes. Afinal, é isso que se espera delas. Elas precisam ser invulneráveis, trabalhar muitas horas por dia, dar conta da casa, dos filhos, do relacionamento, exercer sua própria personalidade, se exercitar 7 dias na semana, saber todas as posições do kama sutra, sobreviver em cima do salto agulha e ter a cara repuxada com botox.

Acontece que elas acabam entrando em conflito constante com elas mesmas por perceberem que não é tão fácil assim se adequar a esse perfil. E que sempre têm aqueles dias em que a herança pré-histórica feminina transborda pelos poros e elas voltam a sentir que precisam da outra metade para poderem se sentir inteiras novamente. Aí não tem jeito. Mandam às favas toda a história de queimar sutiã em praça pública e ficam desejando poder voltar a ser, por alguns instantes, belas donzelas do século XVIII que gostam de cortejos, e que precisam de colo e proteção. Além disso, nesses dias, passar por criança que precisa de colo não parece loucura e exigir igualdade pela manhã e se recusar a pagar o jantar a noite é algo totalmente coerente pra elas.
Acho que as mulheres estão em fase de transição, de amadurecimento, de conscientização. Mas é preciso buscar sempre o equilíbrio, certo?! Acho então, que nós mulheres, deveríamos assumir logo que homens e mulheres nunca serão iguais, e que o feminismo é na verdade uma grande farsa. E que talvez seja essa a grande questão a ser resolvida. O amadurecimento que ainda falta. Isso e o fato de ainda não termos nos livrado do péssimo hábito de, volta e meia, desprendermos tempo e paciência demais para homens medíocres – mas esse, é um papo pra outra hora...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

data nasc.: 23 de fev. 1989

22 anos daqui a uma semana.
Ainda não sei direito o que mudou por dentro.
Mas algo mudou.
Porque por fora a vida ta mais limpa
as amizades mais selecionadas
e tudo me parece mais calmo.
[weird]

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Dream a little dream....


1:16. Acordou, ainda com sono, depois de um sonho estranho. Os olhos pesando no rosto, e um cabelo amarrotado de sono mal dormido. Se perguntava por que ainda sonhava com ela, enquanto segurava a porta da geladeira aberta. Ela não é mais dele, e ele não a ama mais. E isso deveria lhe garantir alguma paz. Mesmo que ainda vasculhasse as coisas dela pela casa, pra ver em que parte do corpo ainda doía. Mesmo que ficasse procurando os traços que ela deixou pra trás, na casa que nunca foi dela, só pra doer mais um pouco, pra entender a dor. Ainda assim, em sonho, achava que deveria ter alguma tranqüilidade.

Acendeu um cigarro e pensou nas coisas que não lhe apetecia falar. Pensou no passado em comum, nos olhos pequenos e sorriso imponente que ela tem e nas invasões noturnas em seus sonhos. Mesmo não sendo mais dele, e ele não a amando mais, sabia que sua presença ainda ecoava pela casa - que nem sequer foi dela - a ponto de enlouquecê-lo. E num movimento brusco, de quem quer desviar o pensamento, vestiu a camisa amarrotada que estava apoiada na cadeira da sala e saiu na intenção de comprar algo que lhe agradasse o estomago.

Caminhou pelo bairro, enquanto a vizinhança o ignorava, e sentiu o tédio em meio à loucura urbana. Se aproximava do bar, aberto 24 horas, quando reparou na mulher de longos cabelos negros e pele absurdamente pálida parada na calçada. Continuou sério a fita-la. Chegou mais perto, sentindo as pupilas dilatarem. Perguntou as horas. A mulher inclinou o corpo um pouco pra trás pra olhar o relógio, e disse sem muita cerimônia: São duas e vinte sete. Ele, em um movimento com a cabeça, muito formal, agradeceu e entrou.

Depois de comer, passou os olhos pela rua esperando ve-la mais uma vez. Mas não a encontrou.

Voltou pra casa. E sem muita demora percebeu as pestanas dos olhos cederem. Deitado, sentiu alguém repousar suavemente a mão sobre seu peito. Girou o corpo lentamente, e pode observar as curvas alvas e expostas da mulher deitada ao seu lado. Dona de longos cabelos negros, ela vestia apenas um relógio no pulso esquerdo. Nada mais. Estava completamente despida, mas tinha o lençol enrolado entre as pernas. Subiu o olhar até encontrar um rosto alongado de traços marcantes que exibia um par de olhos amendoados, extremamente vivos e acordados. Sentiu suas pupilas voltarem a se dilatar. E a boca seca que a saliva resistia em umedecer.

Ela estava ali.

Ana estava ali.

Mesmo ela não sendo mais dele, e ele não a amando mais. Mas estava ali. Num sonho estranho. O unico que ainda lhe garantia alguma paz.