sábado, 18 de junho de 2016

Do divórcio

Me divorciei da cidade. Eu até tentei amar, mas Dublin me pôs pra dormir no sofá! Merecida a punição. Culpa minha que não consegui desapegar dos cacos de um outro lugar. Dublin me amou manso, de forma saudável e afetuosa só pra me provar que é possível, mas me tomou logo em seguida por eu ter sido tão ingrata! De birra e caso pensado a cidade me deu a solidão. Jogou na minha cara que meus anseios eram apenas ilusões. Depois, com pena, me deu música de rua e deixou que ela me tocasse. O curso ficou puxado, o custo de vida muito alto e a minha avareza descabida me fez cada dia mais desiludida. Repetia: NÃO TE QUERO MAIS! E num suspiro final, pôs seus trilhos na frente do meu pedal, quebrou minha mão e me disse 'TA BOM, TCHAU! E como em qualquer romance fracassado, o amor do renegado nasce fora do compasso. Hoje amo a cidade que só me quis em dias pares e me renegou em dias ímpares. Sinto o buraco do amor e do ódio que larguei na Mountjoy e ainda tento recolher minhas entranhas espalhadas na frente do Croke Park. Amar dói, e Dublin me fez entender - tardiamente - que alguns casais simplesmente não funcionam...



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

27 no 23

 “O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.” (Graciliano Ramos)

Enfim, é ano novo. Meu ano novo, meu recomeço, meu zerar do cronometro, o retorno da Lua progredida à posição do meu nascimento.  Meus 27 do agora ou nunca, meu grito na cara da maldição do clube dos 27 ou a certeza tardia de que não sou tão virtuosa assim - pelo contrario, comecei errado! Tive a ousadia de nascer no Carnaval e fazer silêncio. Batuque, Samba, marchinhas, tamborim e eu não quis fazer barulho. Quisera minha mãe ter conseguido prever que eu já anunciava aí que não teria escapatória, eu iria fazer tudo do meu jeito!

Acontece que quem nasce no carnaval não tem vocação pra ser discreto. Nossa primeira impressão do mundo é colorida, musicada, cheia de sorrisos e quando descobrimos que a vida não é bem assim, rola um choque, entende?! E talvez por isso eu tenha crescido e virado uma mistura de amor e caos. Talvez por isso, nunca nada tenha sido leve. E certamente por isso a vida sempre me pareceu uma grande festa - E você sabe que a festa foi boa vendo o tamanho da ressaca!

Eu sou a ressaca do carnaval, a quarta feira de cinzas e a vontade de querer sempre um pouco mais! E ai, não importa se os novos dois dígitos me assustam, não importa se o retorno de Saturno vem iluminado pela Lua cheia, não importa se não consigo levar meus amores menos a sério e muito menos que essas coisas não vão me passar impunes, ou que nunca passarão! Por mais que eu bata os pés e peça que pare, que eu corra, mude de casa, de cidade e de país, a verdade é que isso não faz interferência alguma na velocidade em que minha idade me alcança!   

27 anos e respirar parece ser pouco, mas é só o que importa. 27 anos e eu precisei mudar pra um lugar que não é meu só pra tentar achar, dentro de mim, aquilo que ainda me falta. Aprender a colocar os cacos de vidro do copo e do coração dentro do lixo e não voltar mais pra buscar! É mais fácil comprar um copo novo e manter o coração (e a cabeça, vale lembrar) no lugar e deixar que as coisas se acertem sem que eu precise enfartar!  27 anos e é só isso que eu preciso. A aquisição definitiva da autonomia do sentir, e saber voltar, quando necessário, ao silêncio confortável de quando eu nasci. O silencio que anunciou, precocemente, que eu iria fazer tudo do meu jeito! E que eu fiz!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Dois mil e de uma vez

Dois mil e crise acabou. E que vá com ele as dores dos nossos corpos cansados. Não foi um ano fácil. Mas acabou! É possível respirar mais uma vez, recuperar o que ficou pra trás, reconstruir os pedaços do que foi quebrado e recolher nossa coragem enfraquecida pra encarar o que está por vir.  

Que 2016 venha recheado de melhores pessoas e melhores escolhas, além de todas as novas experiências que me aguardam. O ano que se inicia me reserva a necessidade de ir, de buscar algo em uma cidade que não me pertence, mas que é meu: Liberdade! Que o frio que me espera não esfrie meu peito e que minhas marcas sejam mapeadas em minúsculas, maiúsculas e interjeições, pra que eu possa depois voltar pra reler e relembrar tudo aquilo que inevitavelmente ficará pra trás. É o que desejo pra mim. Pros familiares e amigos, quero dizer que acho extremamente possível conseguir rebobinar a vida e começar tudo outra vez, ainda que a gente precise rezar um pouco mais antes de dormir! Força!

Que neste ano então, a gente consiga exterminar todos os nossos fantasmas e lembrar de ser mais humano e mais cuidadoso ao lidar com o próximo. Que as emoções venham mais administradas - porque transbordar demais da um trabalhão danado na hora de limpar. E que a gente aprenda a se permitir - de vez em quando - dormir até acordar! Por fim, que dia sim dia também a gente se sinta muito bem! PORQUE A VIDA É PRA SER LEVE! Então que seja! Feliz Ano Novo!