sábado, 31 de outubro de 2009

Cargo dificil de aguentar!

Não sou sutil, não é meu forte. A TPM chega e eu choro descaradamente na frente de quem for, e depois morro de vergonha. Ser mulher é cargo dificil de aguentar. E entre doces e mais doces, sempre uma dose extra de dramas e clichês. E é nessa época do mês que eu perco o poder sobre as palavras que escrevo. E tento botar pra fora aquilo que não consigo gritar. E fico louca e em seguida apática. Escrevo textos e paro no meio. Queria escrever pra falar sobre perguntas que ficam sem respostas e como é dificil conviver com elas. Mas a TPM me consome e não me deixa escrever o que quero, só o que sinto. Sinto tudo e não sinto nada. Sina de que tem o coração trancado. Estou trancada. Pra dentro e pra fora, ninguém entra mas ao mesmo tempo ninguém sai! Mas deveria sair. Talvez se me dessem as respostas das perguntas que ficaram no ar. Talvez se eu parasse de responder as perguntas que nunca me fizeram. Mas o que posso fazer?! Está tudo escrito na minha cara pra quem quiser ler. E ai eu começo a achar que eu não tenho talento pra coisa e ameaço parar de escrever. Depois lembro que chorei e sorri entre palavras e papéis. Só que hoje não controlo mais as palavras. Porque meu coração está trancado, niguém entra e ninguém sai. E eu não sou sutil, tenho tudo estampado na minha testa. Tenho estampado no meu corpo e debaixo das minhas dobras coisas que eu sei que você lê e ignora. E o dia ta cinzento e essa chuva aumenta minha vontade de esmagar o edredom, não pensar em nada e comer uma caixa de bis laka. A TPM vem e tira tudo do lugar, revira minha vida, minha calma, meu orgulho, meus textos e minha pose de mulher equilibrada. E entre doces e mais doces, uma dose extra de dramas e clichês. Ser mulher é cargo dificil de aguentar.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Entre o céu e a terra.

* Se vc nunca ouviu falar em Jerê, provavelmente não vai entender nada deste texto! rsrsrs



Esfreguei os olhos pra enxergar melhor, mas só o que vi foi uma imensidão azul. Tão quieto e tranqüilo que parecia não existir som algum ali. Dei um passo pra frente, e estranhamente não senti o peso do meu corpo, não senti o ar em atrito à minha pele. Seria um imenso e azul espaço vácuo se eu não estivesse respirando tão bem. Meu corpo reagia bem àquela paz e àquela quietude tão incomum para mim. De repente me dei conta que estava sozinha ali. Olhei em volta, procurei por cima, por baixo e por todos os lados e nada. Senti meu coração acelerado pelo medo. Poderia suportar qualquer coisa, mas jamais a solidão!

- Não tenha medo de estar só. A solidão é a melhor forma de autoconhecimento.

A voz vinha de trás. Me virei e vi um homem de cabelos negros, começando a ficar grisalho, alto, nem tão moço, nem tão velho, mas tinha os olhos resplandecentes de sabedoria. Estava sentado em cima de uma mala feita de madeira, que já parecia ter alguns milênios de existência.

Mas quem é você? – perguntei.
E com uma voz que, apesar de doce, soava melancólica, me respondeu: - Sou eu, seu amigo, Jerê!

(Trilha sonora de efeito: I Said I didnt come here to leave you, i didnt come here to lose.. )

Lilla: - Eu pensei que você fosse mais velho!! – Quase precisei gritar pra poder ser ouvida por cima daquela música
Jerê: - Sou do (..I didn't come here believing I would ever be away from you..)
Lilla:
- Desculpe, não consegui te ouvir.
Jerê: - Ó perdão – e com um gesto fez a música parar- O efeito sonoro causa grandes emoções aos seres humanos, sabia?! – Disse meio envergonhado, tentando se explicar.
Lilla: - Tudo bem. Mas como eu disse, achei que fosse mais velho.
Jerê: - Sou do jeito que você me vê ai dentro do seu coração.
Lilla: - Então se eu fosse um bicho, um coelho por exemplo...
Jerê: (interrompendo) - Provavelmente eu teria a forma de um coelho, ou quem sabe de um grande cenourão! – E riu de si mesmo como se aquela tivesse sido a piada do século.
Lilla : - He He He... Mas, Jerê, por que a mala? – Mudei de assunto antes que ele tentasse uma nova piada.
Jerê: - Estou de partida por tempo indeterminado.
Lilla: - Mas porque? Conheço muita gente que te lê. Que busca sabedoria nas coisas que escreve.
Jerê: - Ando meio abatido, preciso me recolher à solidão. Lembra da lição que te dei agora a pouco?
Lilla: - Não prestei muita atenção, na verdade. Desculpe.
Jerê: - A solidão é a melhor forma de autoconhecimento.
Lilla: - Ah,sim. Lembrei. Jerê, você está abatido porque está apaixonado?
Jerê: - Não seja boba, não existe paixão entre os anjos.
Lilla: - Desculpa, é que só sei dar conselhos sobre isso.
Jerê: - Muitas forças atuam em você. Você só não sabe pra onde está indo.
Lilla: - Talvez porque eu não esteja indo a lugar nenhum. Ao contrario de você. - Falei olhando pro malão de madeira.
Jerê: - O movimento continua. Preciso ir.
Lilla: - Olha, Seu Jerê, não me leve a mal não, mas o senhor não pode ir embora assim, simplesmente do nada. Existem pessoas que precisam de direção, de ensinamento! A vida lá embaixo não é como aqui!
Jerê: - As coisas do espaço são mesmo misteriosas. Não tente entendê-las, saiba apenas que são amáveis.
Lilla: - É difícil sobreviver lá embaixo, sabia?!
Jerê: - Lá, muda-se as paisagens, as coisas de ver e de viver, mas você tem que permanecer a mesma. Porque você é eterna. Todos vocês são.
Lilla: - Já vi que não vou lhe convencer a ficar. Foi um prazer te conhecer, mas preciso voltar.
Jerê: - Não vá, fique aqui no meu lugar! Escreves tão bem.
Lilla: - Máeeeu???? Como poderia? Não sou anjo.
Jerê: - Não precisa ser anjo pra passar a frente sabedoria. Basta escrever com o coração.
Lilla: - Mas tudo que escrevo sai parecido comigo: inquieto, perdido e ansioso.
Jerê: - Encontre a paz que encontrará a resposta certa para escrever.
Lilla: - Não daria certo. Preciso do caos constante pra manter minhas turbinas funcionando.
Jerê: - Calma, respire um pouco e olhe em volta. Olhe em que lugar lindo estamos!!
Lilla: - Esse azul infinito me incomoda. Preciso voltar.
Jerê: - Você não sabe para onde está indo.
Lilla: - Estou indo pro lugar de onde não deveria ter saído. Têm pessoas esperando pra ler os meus textos e não vou deixá-los na mão. - E fui saindo,com o peito estufado, pensando: Botei moral no Jerê, quero ver se ele não volta!!!!!!

Esfreguei os olhos pra enxergar melhor, e vi que estava no meu quarto, na minha cama, acordando de um sonho. Estiquei um pouco as pernas, alongando-as. Olhei pro teto do meu quarto e corri pro computador com ânimo máximo pra escrever um novo texto. Quando liguei o monitor: (I Said I didnt come here to leave you, i didnt come here to lose.. ) e uma mensagem piscando na tela: "Nunca deixe de escrever. Leve a sério a vida e as coisas. AME. Reflita sobre isto. Do amigo do espaço.Jerê "

P.S: Texto especial pros orfãos de Jerê!!! hahahahahaha
P.S2: Desculpem minha falta de habilidade com discursos diretos.... hehehehehehe

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Sobre um sorriso, um global e dedos dos pés contraídos


Por trás de um blog sempre existe a eterna desculpa da ficção (e eu até que abuso bastante dela - da ficção). Mas hoje resolvi escrever abertamente sobre mim. E sobre uma amiga - que por não ter me dado permissão pra falar sobre ela, será protegida pelo anonimato. Isto porque não saberia descrever o que aconteceu por via de algum personagem. E também não queria criar ou rebuscar nenhum detalhe. Portanto só poderia ser eu mesma a personagem principal dessa história. Eu e minha amiga protegida pelo anonimato.

Tentei ficar o mais bonita possível – apesar de ter me recusado a trocar os óculos pelas lentes de contato - e dei o melhor de mim para um dia de domingo. Domingo a noite não costuma ser o momento ideal parar sair, mas la fomos nós pra rua. Buscar um pouco de samba e diversão. Mesmo a cabeça tendo andado pensando muito na imaturidade desajeitada de um músico que cruzou a minha vida, o coração anda admirando - entre umas festas e outras - o sorriso de um novo rapaz. Isto, porque quando ele sorri, meu corpo responde de forma estranha. Pura atração, eu sei, mas foi a busca por esse sorriso, somado à companhia imprescindível das amigas, que me deixou ansiosa pra entrar de uma vez naquela festa.

Lá dentro estava um formigueiro de gente se espremendo e tentando à cotoveladas abrir algum espaço para sambar ao som da bateria da Jucutuquara. Eu, que não sei sambar, fui caminhando colada na minha amiga, aceitando - apesar da dor - as pisadas no dedinho do pé e os esbarrões na boca do estômago. Em pouco mais de 15 minutos todo o esforço que eu tinha feito para ficar o mais bonita possível para uma noite de domingo tinha ido por água abaixo. O suor fazia meu cabelo colar no pescoço e a maquiagem escorrer por de trás dos aros dos meus óculos. O que não acabou com o meu ânimo, mas me deixou com medo de encontrar perdido por la o dono do sorriso que eu tinha ido procurar. “Vamos fumar um cigarro?” – convidei minha amiga, que nesta altura já estava de pés no chão, cabelo preso em coque no alto da cabeça e pedindo que a passista da escola de samba a ensinasse alguns passos. - “E olha que não bebi nem uma gota de álcool pra não sabotar a dieta” – Dizia ela pra mim, aceitando o convite pra fumar um cigarro.

Pelo menos nisso essa nova lei antitabagismo estava ajudando, afinal, pra fumar agora tem que ir pro lado de fora da boate. E seria este o momento que eu teria pra tentar recuperar o fôlego e voltar a procurar o menino de sorriso largo que faz meu rosto corar e meu dedão do pé se contrair dentro do sapato toda vez que o vejo. Estava distraída, fumando um cigarro com gosto de culpa (porque estou tentando parar), penteando os cabelos com os dedos e imaginando que talvez fosse melhor desistir. Ele tem o sorriso bonito, mas vive num mundo onde legal mesmo é essa coisa de não se apegar a ninguém e ser de todo mundo ao mesmo tempo. De repente, num grito, minha amiga chamou minha atenção “Joga o cigarro fora, se arruma e vamos entrar. Olha quem está ali?” – Vinha entrando um desses atores Globais que por onde passa causa um reboliço entre as mulheres e um burburinho entre os homens.

O Global entrou, e nós entramos atrás. Engraçado observar como as mulheres mudavam a postura e balançavam exageradamente os cabelos quando ele passava por perto. Pareciam concorrentes de um concurso estilo “Garota samba no pé 2009” e ele – o Global – seria o jurado que determinaria a ganhadora. Mas por sorte de minha amiga, e minha também (não vou negar que também quis dar uma olhadinha no global), ele parou no camarote bem perto ao nosso. A música estava boa, a companhia inigualável e a noite divertida. Minha amiga exalava alegria pelos poros, além do cheiro gostoso de perfume doce. E pude perceber pelo jeito que ela olhava pra ele, que naquele momento o dedão do pé dela também se contraía dentro do sapato. Foi quando de relance, quase que por uma coincidencia do destino, vi passando la longe o sorriso que eu procurava. Extremante galanteador. Talvez não aos olhos de qualquer pessoa, mas aos meus, um galanteador que parece saber jogar bem as cartas que tem na manga. E ficamos as duas ali ficcionadas, paradas no primeiro degrau da escada de Platão (que deveria estar se revirando no caixão uma hora dessa) atiçadas pela fantasia de querer se relacionar com alguém que tenha esse "quê" de impossível, de fora do alcance. Não porque andamos por ai catando o papel do chiclete que eles jogaram no chão. Mas porque é estimulante.

No fim, minha amiga conseguiu. Uma olhada e um sinal. O que pra ela bastou, afinal, ela exala um cheiro doce, samba de pé no chão e não participa de nenhum concurso estilo "Garota samba no pé 2009". Portanto ele que se virasse. E eu? Até tentei. Procurei pelo salão quem eu queria encontrar, mas o esforço foi em vão. Primeiro pensei em processar Murphy e os Deuses por danos morais. Depois achei que estava louca, mas lembrei que eu sempre fui assim e que as coisas são porque têm que ser. Pensei até em esquecer de vez essa historia. Pura atração, eu sei. Mas acontece, que quando ele passa na minha frente e sorri, meu corpo responde de forma estranha. Meu rosto fica corado e meus dedos se contraem no fundo do sapato...
Antes eu tivesse escolhido o global.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Quem conta um conto.. [Parte IV]

... Ana bebe displicente uma xícara de café, olhando a janela imaginando: “onde é que aquele sem vergonha está agora?” Provavelmente em cima do seu edredom branco falando com seu novo e calmo amor das loucuras do último que teve. Depois do fim. Depois que tudo acaba o que resta é a saudade. E só uma coisa é maior do que a saudade, o orgulho. E Ana é só coração – admite. Mas em momentos como esse a cabeça toma conta. O que não tem nada a ver com racionalidade. É a cabeça que pensa em dez desculpas fajutas para ligar e ouvir a voz dele de novo. E fica esperando notícias, e essa volta que nunca chega. E pensa na nova vida dele, no novo país, nos novos amigos e a faz imaginar como deve estar soando seus novos sons, e como deve estar sendo escritas suas novas músicas. E a faz morrer de ciúmes de todo mundo que pode vê-lo todos os dias enquanto ela lhe escreve cartas que jamais serão enviadas. É tudo culpa da cabeça, porque a distancia é imensa e o coração pequeno demais para ela. O coração, alias, conseguiu voltar a bater, mas a cabeça ainda sente falta e pensa muito nele. Coisa de gente apegada demais. Ou talvez viciada demais. Daquelas que sabem que não da certo, mas continuam apostando. No final, Ana deixa de lado, esquece, entende e não liga. Esquece a cabeça e volta a dar prioridade ao coração, que está voltando a bater feliz e só quer o carregar no bolso feito um daqueles chicletes que perdem o gosto...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

SAUDADES...

[05:15]

Hoje senti uma saudade absurda de você.
no meu som, a voz era a sua. Repetidamente.

Água com gás é o cacete, o negócio é sério!!
(dá o sinal)
- Whisky com energetico, por favor!

Odeio whisky!!
Mas como dizer que sinto saudades???
Merda de orgulho!

- Mais uma dose, por favor!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

“A sabedoria é algo que quando nos bate à porta já não nos serve para nada" [Gabriel Garcia Marquez]

Quando a gente entende que nascemos sós, morremos sós e gozamos sós, a vida começa a ficar mais fácil....

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sobre as folhas das árvores e eu.

21:40, o chinelo jogado no fundo da sala. Eu, pés descalços, frente à janela, observando a cidade que se move lá em baixo, pensando em como está a vida e tentando me convencer de que o trabalho está bom. A noite tá quente e sem vento. Tudo se move, as folhas das árvores não. Enquanto isso, os carros vão passando e as pessoas no bar ao lado conversam e se movimentam num caos onde tudo parece em harmonia. Na cidade, esta noite, tudo se move menos as folhas das árvores e eu. Aqui dentro, eu vejo o maço, o livro, o chinelo longe e o ventilador que gira devagar, despreza meu calor e me joga um bafo ironicamente quente. Lá fora a cidade em que nasci e onde me sinto estrangeira.




22:17, O calor continua forte, eu continuo não sabendo se o trabalho tá bom e o chinelo continua longe. Pela janela vejo o bar lotado e alguns carros que passam. Bem que um deles podia me levar. Me levar para longe desse calor infernal e desse tédio que me consome. Reviro o maço. Vazio. Deslizo a mão pelo parapeito da janela, fecho os olhos por um instante e tento sentir a cidade. Tento me sentir na cidade. Mas pareço ser parte de um mundo paralelo a ela. Eu e as folhas das arvores que não se mexem. Elas lá em baixo, insensíveis e estáticas frente o caos urbano, ignorando seu meio e contrariando todo o resto que se move. E eu aqui, com meus pés descalços, olhando as pessoas lá fora, pensando que um daqueles carros bem que podia me levar daqui. Me fazer jogar o chinelo no lixo, o tédio para longe e me levar para algum lugar onde eu me sinta em casa, mesmo sendo estrangeira.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Rotina

2 horas da manhã. É fácil olhar pra mim e falar que eu sou desequilibrada, mas é ele que só funciona no estopim, quando alguém grita no ouvido dele. Senão ele ficaria o dia inteiro com aquele ar de despreocupado de quem deixa tudo pra depois! Eu só queria o mínimo. Gosto das coisas pequenas. Das pequenas demonstrações de afeto. Gestos mínimos de carinho. Só queria que ele reparasse em minhas roupas, lesse o meu blog ou ligasse no meio da tarde pra perguntar como estava indo meu dia. Essas coisas, simples e que não custam dinheiro. Mas não adianta. Nem quando eu coloco meus vestidos primaveris cheios de cores, quando dou uma caprichada na maquiagem, ou quando uso uma roupa mais decotada pra ver se chama a atenção dele, ele repara em mim. Não me elogia. Ao invés disso, ele chega e reclama que eu estou fedendo a cigarro, ou que estou falando demais. Eu faço tanto por ele. Sempre odiei dormir acompanhada, com gente roubando meu espaço na cama e meus lençóis. E ele mexe a noite inteira. Atrapalha meu sono. Mas nunca falei, nunca reclamei com ele pra que ele não se sentisse mal ou culpado. Eu gosto de futebol e me esforço pra entender tudo sobre o time dele só pra poder conversar sobre coisas que ele gosta. Sou extrovertida e desencanada. Faço amizade fácil. Os amigos dele me adoram. E ele percebe? Não! E agora, quando eu resolvo falar que isso me incomoda, dá nisso: briga. E ainda joga na minha cara que eu brigo por coisa pequena. SIM, por coisa pequena! Estou brigando porque quero as coisas pequenas! Ele liga pelo menos 3 vezes por dia pra mãe dele, porque não pode me ligar pelo menos 1 vez e saber como está indo meu dia ou as coisas no trabalho? E agora ele ta lá dormindo no outro quarto só pra me torturar, só pra jogar na minha cara o nada que restou pra mim. Ele não merece meu jeito, meu gosto, meu tato, meu amor, minha falação desesperada, meu espernear pela casa, meus bicos e nem meus passos barulhentos pelo chão. Amanhã eu vou embora. Vou passar uns dias na casa da minha mãe. Vou fazer ele sentir falta. Vou fazer ele me ver indo embora, de óculos escuros e andando na contramão. Vou me afastar pra ver se assim ele sente falta do meu salto batendo no chão da sala, da minha falação e das minhas manias. Melhor dormir porque a cama estática está me incomodando e amanhã será um longo dia.

4 e meia da manhã. Ela tem esse jeito de só funcionar em alta velocidade e reclama constantemente que precisa de um pequeno caos interno pra poder conseguir escrever. E escreve compulsivamente. Escreve no blog e tenta escrever um livro. Eu a encorajo sobre o livro embora nunca leia o blog dela. Tenho medo do que ela escreve lá. Reclama que não dou a ela o suficiente. Mas eu não digo que ela não precisa daqueles vestidos floridos cheio de cores pra chamar atenção, pra que ela não ache que estou falando mal das roupas dela. Não reclamo quando ela exagera na maquiagem. E nem quando abusa daqueles decotes. O que me deixa louco de ciúmes e raiva, mas não falo. Me esforço pra tentar convencê-la a parar de fumar porque me preocupo com a saúde dela. Na hora de dormir, reclama do mau tempo e do ar condicionado e pede pra desligar o ar e abrir a janela, eu deixo. Depois reclama do barulho do trânsito e fecha a janela. Transforma o quarto numa estufa. E o calor insuportável atrapalha meu sono, me faz rolar por horas na cama até conseguir dormir. Não falo que é estranho ouvi-la falar sobre futebol e nem rio das besteiras que ela fala quando é este o assunto. Aceito seu jeito expansivo e a forma como fala alto e gesticula e me faz sentir invisível quando estou com meus amigos, porque ela fala demais e arranca gargalhadas deles, sem deixar espaço para mais ninguém. E ela diz que não faço o suficiente! Diz que gosta das coisas pequenas. Mas eu não consigo entender o que essa mulher pode querer mais. Tá ai, agora, dormindo. E eu aqui parado na porta do quarto. Tentei ir embora. Porque ela não merece que eu atrapalhe sua vida e suas coisas e nem minha quietude voluntária, nem meu jeito próprio de respeitar seu barulhento andar pela casa. Mas a porta estava aberta e do corredor pude vê-la dormindo, com a franja jogada no rosto e essa calma absurda que só aparece quando ela dorme. Não consigo parar de olhá-la. E é nesse momento de paz onde eu posso ficar em silêncio que ela fica mais bonita. Ela diz que ama as coisas simples da vida. Porra nenhuma! Está sempre querendo um pouco mais, sempre falta alguma coisa. A verdade é que quem gosta das pequenas coisas sou eu, que só quero ficar aqui olhando para ela dormindo e imaginando o que dizer amanhã quando ela vier com alguma historia maluca dizendo que está indo embora pra outro país ou voltando pra casa da mãe.