sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Cotovelos


Porque a vida não é fácil! E se esconder atrás de um texto recheado com café, eternas perguntas e problemas de insônia é a fuga mais fácil que consegui encontrar. Pra poder ler, reler e repetir em voz alta pra ver se eu mesma acredito que são só aqueles os meus problemas. Que as dores de cotovelo pelo amor perdido pelo caminho é a ferida que me dói mais. Mas a verdade é que tudo é cinza. Assustadoramente cinza. E que os problemas são gigantes, maiores do que eu. E é nessas horas de desespero e de pânico, que eu me anestesio com palavras. Palavras que me entorpecem a alma e que me acalmam. Palavras que são minhas, que saem de dentro de mim, que sou eu. Sou eu me consolando! É a forma que encontrei pra me colocar no meu próprio colo. Pra me por num berço de frases confortáveis. Pra falar pra menininha que mora dentro de mim que o monstro do armário não existe. Mas que Papai Noel e Coelhinho da Páscoa também não. Então que eu sofra, que doa, que sangre pelas partes mais sensíveis do meu corpo. Apesar disso tudo elas estarão lá, as palavras. Eu estarei lá. Eu e as palavras. Tapando os buracos com frases soltas e linhas desesperadas que eu preciso tanto que saiam. E soltar pelos poros textos recheados de café, perguntas eternas e problemas de insônia. Porque isso sou eu e é também a minha fuga. Sou eu mesma a minha fuga! Fujo e corro pra dentro de mim. Porque aqui dentro, a dor de cotovelo pelo amor perdido pelo caminho é a ferida que dói mais, mas lá fora, a vida não é fácil. Na verdade é tudo cinza. Assustadoramente cinza. E os problemas são gigantes e maiores do que eu. E nessas horas, de desespero e de pânico, sorte a minha ter os cotovelos doloridos.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Um texto. Muitos anos depois.

    26 anos e perdi a pratica. Jazz, madrugada e cigarro. Era a formula pra conseguir escrever. A jovem que eu fui vivia uma personagem noturna que consumia palavras regadas à nicotina e transpirava letras durante as horas mal dormidas. Uma personagem clichê que surgia para escrever textos ainda mais comuns. A admiração pelo cinza, pelo nostálgico e o eterno destrambelhamento do ser me faziam produzir entranhas em textos. Sempre com doses excessivas do sentir. Eu sou só sentimento - repetia com a constância mimada de quem descobriu Billie Holiday muito antes de se descobrir.  

 Acho que juntar parágrafos deixa de ser tarefa fácil quando se coleciona uma quantidade grande de professores na sua pagina pessoal e mantém pendurado na parede um diploma de Universidade Federal.  As vírgulas impróprias e as crases mal usadas viram carrascos da ideia literária.  Um excesso de insegurança que não pode existir em quem escreve sobre o que ta por dentro. E eu só sabia escrever sobre isso. Agora nem consigo mais.

Ironicamente, escolhi Letras porque queria escrever, e hoje, aos 26, a capacitação me impede porque me assusta. Falar sobre isso me assusta um pouco mais! O problema é que eu preciso escrever! Aí em anos ímpares eu tento retomar de onde parei, e nos pares eu me escondo debaixo da cama, morrendo de vergonha de tudo que tem por aqui.  

O tempo passou, larguei o cigarro e não tenho mais o luxo da madrugada. Continuo transpirando letras e dormindo mal, vale dizer. Mas acho que enferrujei mais rápido do que previa. E escrever ficou confessional demais pra quem acabou perdendo a pratica...