segunda-feira, 2 de março de 2015

Um texto. Muitos anos depois.

    26 anos e perdi a pratica. Jazz, madrugada e cigarro. Era a formula pra conseguir escrever. A jovem que eu fui vivia uma personagem noturna que consumia palavras regadas à nicotina e transpirava letras durante as horas mal dormidas. Uma personagem clichê que surgia para escrever textos ainda mais comuns. A admiração pelo cinza, pelo nostálgico e o eterno destrambelhamento do ser me faziam produzir entranhas em textos. Sempre com doses excessivas do sentir. Eu sou só sentimento - repetia com a constância mimada de quem descobriu Billie Holiday muito antes de se descobrir.  

 Acho que juntar parágrafos deixa de ser tarefa fácil quando se coleciona uma quantidade grande de professores na sua pagina pessoal e mantém pendurado na parede um diploma de Universidade Federal.  As vírgulas impróprias e as crases mal usadas viram carrascos da ideia literária.  Um excesso de insegurança que não pode existir em quem escreve sobre o que ta por dentro. E eu só sabia escrever sobre isso. Agora nem consigo mais.

Ironicamente, escolhi Letras porque queria escrever, e hoje, aos 26, a capacitação me impede porque me assusta. Falar sobre isso me assusta um pouco mais! O problema é que eu preciso escrever! Aí em anos ímpares eu tento retomar de onde parei, e nos pares eu me escondo debaixo da cama, morrendo de vergonha de tudo que tem por aqui.  

O tempo passou, larguei o cigarro e não tenho mais o luxo da madrugada. Continuo transpirando letras e dormindo mal, vale dizer. Mas acho que enferrujei mais rápido do que previa. E escrever ficou confessional demais pra quem acabou perdendo a pratica...