terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Contrato

(Liga o som)
"Ouve isso. Você deve entender que não tem a mesma sorte.Ouve só mais isso. Que é música que eu gosto. Depois vai estar tudo combinado. Me deixa dar apenas mais um passo. Um passo pro lado. E ai está tudo certo. Te prometo, só mais dois passos e eu vou ser mais forte. Quem sabe até três ou quatro deles. Porque eu já não sustento mais o meu sorriso, não falo mais, não curto mais, não durmo mais, não como mais e não me aguento mais em pé. Só mais uns oito passos pra frente, e mais uns 5 pro lado e te prometo não tentar ser mais de aço. Com dezesseis eu até paro de fingir que não desmancho, nem me desfaço. Só senta aqui e ouve isso por enquanto, que eu preciso escutar outra voz. Preciso escutar algo que não carregue mais seus traços. Por só mais vinte passos. Combinado?!"
(Aumenta)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

"Por favor, Chérie, não se apaixone por mim"

Você é tanto que sobra. E acorda provocando nostalgia. Procurando por algo que já se foi. Como automutilação. Como arrancar um pedaço da sua memória, da sua pele, do seu respeito. Você provoca as variações de humor, a falta de ar e a saudade de alguém que viveu feliz até o amor acabar. Embora você ainda leve nas legendas o nome daquele que te pediu que o deixasse (mas se manteve ao seu lado pra velar o amor como fosse possível). Daquele que te pediu que deixasse todos eles, todos os seus sentimentos largados pelo chão.
Não deu. Porque seu sentimento cachalote não deixa de colocá-lo no teu inconsciente junto com tuas pílulas para dormir. Porque você transborda. E o que quer é alguém que recolha o que sobra. Você é tanto que sobra. Ou então ainda ame, ame loucamente e se contorça ao ver as marcas dele pela cidade e o buraco vazio que ficou por entre seus ossos. E por isso não queria ir. Mas também não queria que lhe invadissem os sonhos. Acontece que pode não existir jeito, e você precise trocar as pílulas pra dormir, e trancar bem a porta todas as noites. Afinal você é tantas que sobra. E para quem é assim, talvez nunca exista gente o suficiente para recolher os restos...
E isso você precisa entender.
(Você)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Farrapus Humanus

Voltar na casa da minha mãe ainda dói. E assim eu vejo que é preciso muito mais do que botar uma bela roupa branca, tomar banho de sal grosso, enfiar os pés na areia e dar três pulinhos para que as coisas mudem depois da virada do ano. Arrumar o armário, jogar as coisas fora e deixar a janela aberta não vale muito quando a vontade mesmo é de varrer o mofo pra debaixo da porta e chorar, tardiamente, as pitangas em luto pelo meu passado. É preciso muito mais do que escrever uma lista com coisas que você quer que aconteça. Pra começo de conversa, é preciso respirar fundo e deixar a televisão desligada. Deixar a métrica de lado e escolher palavras como quem cata pedras - e as engole depois. Mas admito, no auge da teimosia, que o exercício de catar pedrinhas se faz tão difícil às vezes que a criatividade voa pelos ares e só volta se doer. Doeu deixar meu cachorro. E deixar um amor em 2011 e seguir para o próximo tentando esquecer o que ficou pra trás. Doeu não ter tempo pra fazer mais nada além de trabalhar. E doeu voltar hoje na casa que um dia também foi minha. Mas saio de lá e as pitangas começam a secar, naturalmente. Porque eu acabo por lembrar que eu falhei, invariavelmente, em todos os "must do" da minha última lista, mas troquei de emprego, mudei de casa, de pele, de jeito e mudei, mudei pra cacete. Egocentricamente (ou não), acho que me tornei uma pessoa melhor. E inferno astral a parte, não há nada de que eu possa reclamar. Nem mesmo por ter saído de casa e deixado o cachorro por lá.
Que venha manso, então. E seja doce, 2012. Seja dois mil e doce.