terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Dream a little dream....


1:16. Acordou, ainda com sono, depois de um sonho estranho. Os olhos pesando no rosto, e um cabelo amarrotado de sono mal dormido. Se perguntava por que ainda sonhava com ela, enquanto segurava a porta da geladeira aberta. Ela não é mais dele, e ele não a ama mais. E isso deveria lhe garantir alguma paz. Mesmo que ainda vasculhasse as coisas dela pela casa, pra ver em que parte do corpo ainda doía. Mesmo que ficasse procurando os traços que ela deixou pra trás, na casa que nunca foi dela, só pra doer mais um pouco, pra entender a dor. Ainda assim, em sonho, achava que deveria ter alguma tranqüilidade.

Acendeu um cigarro e pensou nas coisas que não lhe apetecia falar. Pensou no passado em comum, nos olhos pequenos e sorriso imponente que ela tem e nas invasões noturnas em seus sonhos. Mesmo não sendo mais dele, e ele não a amando mais, sabia que sua presença ainda ecoava pela casa - que nem sequer foi dela - a ponto de enlouquecê-lo. E num movimento brusco, de quem quer desviar o pensamento, vestiu a camisa amarrotada que estava apoiada na cadeira da sala e saiu na intenção de comprar algo que lhe agradasse o estomago.

Caminhou pelo bairro, enquanto a vizinhança o ignorava, e sentiu o tédio em meio à loucura urbana. Se aproximava do bar, aberto 24 horas, quando reparou na mulher de longos cabelos negros e pele absurdamente pálida parada na calçada. Continuou sério a fita-la. Chegou mais perto, sentindo as pupilas dilatarem. Perguntou as horas. A mulher inclinou o corpo um pouco pra trás pra olhar o relógio, e disse sem muita cerimônia: São duas e vinte sete. Ele, em um movimento com a cabeça, muito formal, agradeceu e entrou.

Depois de comer, passou os olhos pela rua esperando ve-la mais uma vez. Mas não a encontrou.

Voltou pra casa. E sem muita demora percebeu as pestanas dos olhos cederem. Deitado, sentiu alguém repousar suavemente a mão sobre seu peito. Girou o corpo lentamente, e pode observar as curvas alvas e expostas da mulher deitada ao seu lado. Dona de longos cabelos negros, ela vestia apenas um relógio no pulso esquerdo. Nada mais. Estava completamente despida, mas tinha o lençol enrolado entre as pernas. Subiu o olhar até encontrar um rosto alongado de traços marcantes que exibia um par de olhos amendoados, extremamente vivos e acordados. Sentiu suas pupilas voltarem a se dilatar. E a boca seca que a saliva resistia em umedecer.

Ela estava ali.

Ana estava ali.

Mesmo ela não sendo mais dele, e ele não a amando mais. Mas estava ali. Num sonho estranho. O unico que ainda lhe garantia alguma paz.