sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Rotina

2 horas da manhã. É fácil olhar pra mim e falar que eu sou desequilibrada, mas é ele que só funciona no estopim, quando alguém grita no ouvido dele. Senão ele ficaria o dia inteiro com aquele ar de despreocupado de quem deixa tudo pra depois! Eu só queria o mínimo. Gosto das coisas pequenas. Das pequenas demonstrações de afeto. Gestos mínimos de carinho. Só queria que ele reparasse em minhas roupas, lesse o meu blog ou ligasse no meio da tarde pra perguntar como estava indo meu dia. Essas coisas, simples e que não custam dinheiro. Mas não adianta. Nem quando eu coloco meus vestidos primaveris cheios de cores, quando dou uma caprichada na maquiagem, ou quando uso uma roupa mais decotada pra ver se chama a atenção dele, ele repara em mim. Não me elogia. Ao invés disso, ele chega e reclama que eu estou fedendo a cigarro, ou que estou falando demais. Eu faço tanto por ele. Sempre odiei dormir acompanhada, com gente roubando meu espaço na cama e meus lençóis. E ele mexe a noite inteira. Atrapalha meu sono. Mas nunca falei, nunca reclamei com ele pra que ele não se sentisse mal ou culpado. Eu gosto de futebol e me esforço pra entender tudo sobre o time dele só pra poder conversar sobre coisas que ele gosta. Sou extrovertida e desencanada. Faço amizade fácil. Os amigos dele me adoram. E ele percebe? Não! E agora, quando eu resolvo falar que isso me incomoda, dá nisso: briga. E ainda joga na minha cara que eu brigo por coisa pequena. SIM, por coisa pequena! Estou brigando porque quero as coisas pequenas! Ele liga pelo menos 3 vezes por dia pra mãe dele, porque não pode me ligar pelo menos 1 vez e saber como está indo meu dia ou as coisas no trabalho? E agora ele ta lá dormindo no outro quarto só pra me torturar, só pra jogar na minha cara o nada que restou pra mim. Ele não merece meu jeito, meu gosto, meu tato, meu amor, minha falação desesperada, meu espernear pela casa, meus bicos e nem meus passos barulhentos pelo chão. Amanhã eu vou embora. Vou passar uns dias na casa da minha mãe. Vou fazer ele sentir falta. Vou fazer ele me ver indo embora, de óculos escuros e andando na contramão. Vou me afastar pra ver se assim ele sente falta do meu salto batendo no chão da sala, da minha falação e das minhas manias. Melhor dormir porque a cama estática está me incomodando e amanhã será um longo dia.

4 e meia da manhã. Ela tem esse jeito de só funcionar em alta velocidade e reclama constantemente que precisa de um pequeno caos interno pra poder conseguir escrever. E escreve compulsivamente. Escreve no blog e tenta escrever um livro. Eu a encorajo sobre o livro embora nunca leia o blog dela. Tenho medo do que ela escreve lá. Reclama que não dou a ela o suficiente. Mas eu não digo que ela não precisa daqueles vestidos floridos cheio de cores pra chamar atenção, pra que ela não ache que estou falando mal das roupas dela. Não reclamo quando ela exagera na maquiagem. E nem quando abusa daqueles decotes. O que me deixa louco de ciúmes e raiva, mas não falo. Me esforço pra tentar convencê-la a parar de fumar porque me preocupo com a saúde dela. Na hora de dormir, reclama do mau tempo e do ar condicionado e pede pra desligar o ar e abrir a janela, eu deixo. Depois reclama do barulho do trânsito e fecha a janela. Transforma o quarto numa estufa. E o calor insuportável atrapalha meu sono, me faz rolar por horas na cama até conseguir dormir. Não falo que é estranho ouvi-la falar sobre futebol e nem rio das besteiras que ela fala quando é este o assunto. Aceito seu jeito expansivo e a forma como fala alto e gesticula e me faz sentir invisível quando estou com meus amigos, porque ela fala demais e arranca gargalhadas deles, sem deixar espaço para mais ninguém. E ela diz que não faço o suficiente! Diz que gosta das coisas pequenas. Mas eu não consigo entender o que essa mulher pode querer mais. Tá ai, agora, dormindo. E eu aqui parado na porta do quarto. Tentei ir embora. Porque ela não merece que eu atrapalhe sua vida e suas coisas e nem minha quietude voluntária, nem meu jeito próprio de respeitar seu barulhento andar pela casa. Mas a porta estava aberta e do corredor pude vê-la dormindo, com a franja jogada no rosto e essa calma absurda que só aparece quando ela dorme. Não consigo parar de olhá-la. E é nesse momento de paz onde eu posso ficar em silêncio que ela fica mais bonita. Ela diz que ama as coisas simples da vida. Porra nenhuma! Está sempre querendo um pouco mais, sempre falta alguma coisa. A verdade é que quem gosta das pequenas coisas sou eu, que só quero ficar aqui olhando para ela dormindo e imaginando o que dizer amanhã quando ela vier com alguma historia maluca dizendo que está indo embora pra outro país ou voltando pra casa da mãe.

5 comentários:

Anônimo disse...

desculpe o palavrão, mas ta Fooda!!!
Acho que não vou fazer mais comentarios no teu blog. Me emocionei, uhsauhsahusa!!!

Anônimo disse...

Bom, enfim, é isso.
Tá aí, aparente, percebe?
É isso. Tá escrito.
Adorei.

Gabriel Campos disse...

CÃO DE GUARDA DO SONO DA AMADA

“Amar, além de muitas outras coisas, quer dizer deleitar-se na contemplação e na observação da pessoa amada”, sopra o velho escritor Alberto Moravia, sempre aqui na cabeceira...."

http://carapuceiro.zip.net/arch2009-09-13_2009-09-19.html

Belo texto, Lívia

Bjao, Miss MM

Grazi L.A. disse...

Muiiito bom!:)

Bjos!

Rodolfo disse...

Não é em vão que fazes letras XD. Ainda me questiono sobre a realidade dessas coisas. Mas no final o que é uma história se não uma realidade da mente do autor!
Já era um fã sem "ler-te"! Apenas confirmou mais um na lista de pessoas que pretendem voltar muito mais vezes aqui