quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sobre as folhas das árvores e eu.

21:40, o chinelo jogado no fundo da sala. Eu, pés descalços, frente à janela, observando a cidade que se move lá em baixo, pensando em como está a vida e tentando me convencer de que o trabalho está bom. A noite tá quente e sem vento. Tudo se move, as folhas das árvores não. Enquanto isso, os carros vão passando e as pessoas no bar ao lado conversam e se movimentam num caos onde tudo parece em harmonia. Na cidade, esta noite, tudo se move menos as folhas das árvores e eu. Aqui dentro, eu vejo o maço, o livro, o chinelo longe e o ventilador que gira devagar, despreza meu calor e me joga um bafo ironicamente quente. Lá fora a cidade em que nasci e onde me sinto estrangeira.




22:17, O calor continua forte, eu continuo não sabendo se o trabalho tá bom e o chinelo continua longe. Pela janela vejo o bar lotado e alguns carros que passam. Bem que um deles podia me levar. Me levar para longe desse calor infernal e desse tédio que me consome. Reviro o maço. Vazio. Deslizo a mão pelo parapeito da janela, fecho os olhos por um instante e tento sentir a cidade. Tento me sentir na cidade. Mas pareço ser parte de um mundo paralelo a ela. Eu e as folhas das arvores que não se mexem. Elas lá em baixo, insensíveis e estáticas frente o caos urbano, ignorando seu meio e contrariando todo o resto que se move. E eu aqui, com meus pés descalços, olhando as pessoas lá fora, pensando que um daqueles carros bem que podia me levar daqui. Me fazer jogar o chinelo no lixo, o tédio para longe e me levar para algum lugar onde eu me sinta em casa, mesmo sendo estrangeira.

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