
22:17, O calor continua forte, eu continuo não sabendo se o trabalho tá bom e o chinelo continua longe. Pela janela vejo o bar lotado e alguns carros que passam. Bem que um deles podia me levar. Me levar para longe desse calor infernal e desse tédio que me consome. Reviro o maço. Vazio. Deslizo a mão pelo parapeito da janela, fecho os olhos por um instante e tento sentir a cidade. Tento me sentir na cidade. Mas pareço ser parte de um mundo paralelo a ela. Eu e as folhas das arvores que não se mexem. Elas lá em baixo, insensíveis e estáticas frente o caos urbano, ignorando seu meio e contrariando todo o resto que se move. E eu aqui, com meus pés descalços, olhando as pessoas lá fora, pensando que um daqueles carros bem que podia me levar daqui. Me fazer jogar o chinelo no lixo, o tédio para longe e me levar para algum lugar onde eu me sinta em casa, mesmo sendo estrangeira.
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