sábado, 18 de junho de 2016

Do divórcio

Me divorciei da cidade. Eu até tentei amar, mas Dublin me pôs pra dormir no sofá! Merecida a punição. Culpa minha que não consegui desapegar dos cacos de um outro lugar. Dublin me amou manso, de forma saudável e afetuosa só pra me provar que é possível, mas me tomou logo em seguida por eu ter sido tão ingrata! De birra e caso pensado a cidade me deu a solidão. Jogou na minha cara que meus anseios eram apenas ilusões. Depois, com pena, me deu música de rua e deixou que ela me tocasse. O curso ficou puxado, o custo de vida muito alto e a minha avareza descabida me fez cada dia mais desiludida. Repetia: NÃO TE QUERO MAIS! E num suspiro final, pôs seus trilhos na frente do meu pedal, quebrou minha mão e me disse 'TA BOM, TCHAU! E como em qualquer romance fracassado, o amor do renegado nasce fora do compasso. Hoje amo a cidade que só me quis em dias pares e me renegou em dias ímpares. Sinto o buraco do amor e do ódio que larguei na Mountjoy e ainda tento recolher minhas entranhas espalhadas na frente do Croke Park. Amar dói, e Dublin me fez entender - tardiamente - que alguns casais simplesmente não funcionam...