“O correr da vida
embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.” (Graciliano Ramos)
Enfim, é ano
novo. Meu ano novo, meu recomeço, meu zerar do cronometro, o retorno da Lua progredida
à posição do meu nascimento. Meus 27 do
agora ou nunca, meu grito na cara da maldição do clube dos 27 ou a certeza
tardia de que não sou tão virtuosa assim - pelo contrario, comecei errado! Tive
a ousadia de nascer no Carnaval e fazer silêncio. Batuque, Samba, marchinhas, tamborim
e eu não quis fazer barulho. Quisera minha mãe ter conseguido prever que eu já anunciava
aí que não teria escapatória, eu iria fazer tudo do meu jeito!
Acontece que
quem nasce no carnaval não tem vocação pra ser discreto. Nossa primeira
impressão do mundo é colorida, musicada, cheia de sorrisos e quando descobrimos
que a vida não é bem assim, rola um choque, entende?! E talvez por isso eu
tenha crescido e virado uma mistura de amor e caos. Talvez por isso, nunca nada
tenha sido leve. E certamente por isso a vida sempre me pareceu uma grande festa
- E você sabe que a festa foi boa
vendo o tamanho da ressaca!
Eu sou a ressaca do carnaval, a quarta feira de cinzas e a
vontade de querer sempre um pouco mais! E ai, não importa se os novos dois dígitos
me assustam, não importa se o retorno de Saturno vem iluminado pela Lua cheia, não importa se não consigo
levar meus amores menos a sério e muito menos que essas coisas não vão me
passar impunes, ou que nunca passarão! Por mais que eu bata os pés e peça que
pare, que eu corra, mude de casa, de cidade e de país, a verdade é que isso não
faz interferência alguma na velocidade em que minha idade me alcança!
27 anos e respirar parece ser pouco, mas é só o
que importa. 27 anos e eu precisei mudar pra um lugar que não é meu só
pra tentar achar, dentro de mim, aquilo que ainda me falta. Aprender a colocar
os cacos de vidro do copo e do coração dentro do lixo e não voltar mais pra
buscar! É mais fácil comprar um copo novo e manter o coração (e a cabeça, vale
lembrar) no lugar e deixar que as coisas se acertem sem que eu precise enfartar!
27 anos e é só isso que eu preciso. A
aquisição definitiva da autonomia do sentir, e saber voltar, quando
necessário, ao silêncio confortável
de quando eu nasci. O silencio que anunciou, precocemente, que eu iria fazer tudo do meu jeito! E que eu fiz!