terça-feira, 15 de novembro de 2011

Hometown Blues


Minha casa nova é romântica e tem as janelas da frente escancaradas pras ruas movimentadas de Jardim da Penha. E milhares de carros passam la embaixo enquanto eu tento exibir vida nova pra todos do novo bairro. Da janela do meu quarto, porém, eu só vejo uma parede bege, mas tenho um vizinho que toca saxofone todo dia à tarde, e isso compensa. A cama dobrou de tamanho pra caber all of my demons. E agora ando fazendo planos pra deixar o apartamento bonito com algumas flores perto da janela, e uma rede na sala, pra combinar com a nostalgia que existe nos ares daqui. Jardim da Penha é cidade de interior, onde todos andam tão aleatórios e soltos pelas ruas que ninguém se encara. Aqui somos todos iguais, e mais sinceros que o resto do mundo. O bairro é melancólico, e todo mundo parece sentir falta de algo, de alguém ou de um tempo passado. Não importa se são famílias seculares, velhinhos morando sozinhos nos prédios onde nasceram, ou pessoas pelos bares na madrugada, pelos loucos, pelas putas, ou por mim, que não tenho a família por perto. Não importa quem seja,  aqui nossa solidão é escancarada. Esse é o motivo pelo qual nos juntamos, todos, no mesmo lugar, e andamos no meio da rua nos debatendo, porque precisamos de contato. Porque somos todos um pouco louco, mas estamos livres e estamos cientes, por isso nos deixamos em paz. Por isso me sinto a vontade com tudo por aqui. E por isso, posso andar até a janela e mostrar vida nova, assumida, pra minha vista bege, ou pra todos os carros que passam nas ruas movimentadas la de baixo. Porque tudo está em seu devido lugar. Não preciso esfregar os pés pra voltar pra casa. Aqui é casa.

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