terça-feira, 4 de outubro de 2011

Leia-me

"Não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou qualquer coisa. Venha à mim com corpo, alma, vísceras, tripas e falta de ar" Caio Fernando Abreu

Esquece todos os que vieram antes. Todos os textos escritos. Toda gente que acabou virando texto. E deixe que eu te faça invadir o meu papel. Pra eu saber que não tem mais jeito. Porque eu sou assim. Eu tenho essa mania de querer colocar minha assinatura em tudo o que eu quero ter certeza de que existiu. Tome esse texto como se fosse o primeiro, pra que eu ache que virou fato documentado. Me deixe destilar letras, até que eu não saiba mais o que sou eu e o que é palavra. Porque eu vou gostar e deixar de gostar destas sílabas ainda um milhão de vezes. Vou escrever textos de páginas inteiras e depois sair correndo. E só voltarei aqui aos poucos. Após reaprender a me decifrar em palavras - como masoquista que sente prazer quando dói. Afinal, literatura precisa causar alguma sensação, senão não serve pra absolutamente nada.
Então deixe que eu te escreva, mais uma vez, como se fosse a primeira vez. Deixe que eu escreva sobre mim, sobre você, ou sobre qualquer um que tenha vindo antes. Te reconheça em minhas linhas, ainda que seja nas mais tortas delas. Mas te ache. Em vísceras, em letras, em tripas, na alma e nas palavras escondidas em baixo das minhas dobras. Seja como ficção, ou como sentença gramatical eternizada. Mas reconheça-te por aqui. E entenda que há em mim uma necessidade vital de escrever. Não como quem escreve pra existir, mas sim como quem precisa disso pra poder ter a certeza de que vai conseguir resistir.  
"Escuta bem, vou repetir no seu ouvido, muitas vezes: a única coisa que posso fazer é escrever, a unica coisa que posso fazer é [te] escrever..." Caio Fernando Abreu

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