quinta-feira, 30 de julho de 2009

Quem conta um conto.. [Parte III]

"... Isto de sensações só vale a pena se a gente se não põe a olhar para elas." [Álvaro de Campos]

* Foto retirada de http://samacc.wordpress.com/
... 1 semana. Havia se passado exatamente uma semana desde o dia em que Ana perdera o vôo, e a mala ainda estava feita, jogada no canto do quarto. Apesar de não assumir pra si mesma - como se isso fosse possível - ela sabia que lá no fundo tinha a esperança de ainda embarcar. De pegar um novo vôo e partir. Partir atrás de suas idealizações. Mas naquela manhã, resolveu desfazer as malas e todos os seus planos junto com ela. Agora seria assim: Nada de planos. Ana estava decidida. Não queria mais idealizar, programar e nem sonhar nada. Até porque, andava sonhando em preto e branco, e não precisa ser gênio pra entender que sonhar em preto e branco é sinal de problema.

Fazia uma manhã irritantemente bela, o céu estava turquesa e sem nuvens. “Pelo menos não vai chover.” E ela agora precisava se contentar de que a vida nem sempre é feita de momentos bons. Que não adianta buscar felicidade eterna. Às vezes tem que se descer ladeira abaixo, pra só então subir novamente, com mais força, mais garra e com mais vontade de ser feliz. E Billie Holiday, agora, serviria para lhe lembrar que o tempo coloca data de validade nas coisas. Um dia, tudo apodrece.

E assim, regada de filosofias baratas, Ana desfez a mala, arrumou o armário e a mente também. Desceu as escadas e foi fazer algo que não fazia já há muito tempo, andar. Andar pelo bairro e observar a vizinhança. Não que ela tivesse algum interesse naquelas pessoas. Mas a sensação de recomeço, de mudança e de vontade de ser a pessoa mais bem resolvida - que a gente sente depois de se recuperar de uma decepção – tinha esvaziado sua mente. Ana tinha se acostumado a viver em meio a café e cigarros. Não sabia muito bem como agir agora que tinha resolvido ser uma pessoa com menos problemas - problemas reais pelo menos. Pessoas felizes e bem resolvidas andam pela rua observando a vizinhança e sorrindo pra todo mundo. E foi só pra cumprir o protocolo que ela foi fazer o mesmo.

Voltou pra casa cansada e suada, mas com a sensação de dever cumprido. Tinha sorrido pra mais gente na rua do que ela havia sorrido durante o último ano inteiro. Tomou um banho rápido - pra não ter tempo de se perder em devaneios em baixo do chuveiro – ligou o som na rádio. Filosofia barata combina com música barata. Acendeu um cigarro. “Afinal, pessoas bem resolvidas também têm seus vícios”. Sentou no sofá, esticou as pernas e ficou ali, com cara de quem espera sem medo o que o tempo fará com ela. Mesmo sabendo que no final, ele a faria perder a validade. Um dia, tudo apodrece..

[Não sei se continua.. rsrs]

Um comentário:

Anônimo disse...

quem nunca deu essa caminhada?rsrs