quinta-feira, 16 de julho de 2009

Quem conta um conto..

"A noite enorme.Tudo dorme.Menos o teu nome" [Leminski]


Pensamentos maldosos haviam lhe tirado o sono. E já que estava acordada, Ana foi à cozinha, comeu alguma coisa, preparou um café (se não iria mais dormir precisaria de um pouco de cafeína pra agüentar o dia seguinte, que estava quase chegando), pensou primeiro na mala que tinha que ter feito hoje e deixou pra amanhã, e depois no menino. "O que será que ele está fazendo agora?”. Olhou o relógio. 4h30 da madrugada. “Provavelmente dormindo”. E o imaginou deitado sobre lençóis brancos, se esticando na cama, dando a idéia de sono profundo. O menino das noites em claro, de motivos de insônia e saudade profunda.

4h55 da manhã e o único barulho no quarto é o do relógio. Maldito barulho, pensou. Deu mais um gole na xícara de café pra alimentar a insônia, folheou o livro jogado na escrivaninha e olhou algumas vezes para o lado. Pijama de moletom, cabelo preso em nó, meias de pares trocados nos pés, e o tic-e-tac do relógio lembrando-a de que seria impossível dormir esta noite. Mas, ainda assim, por pura teimosia, deitou novamente. Visualizou o menino enrolado nos lençóis mais uma vez e inevitavelmente, aqueles pensamentos voltaram a ocupar espaço na sua cabeça. Eles já se conheciam. Tinham se esbarrado debaixo de chuva no meio da multidão de um show em uma cidade que não era nem a dele nem a dela. Duas vidas de repente cruzadas ali, por puro mistério, por puro acidente. E com a mesma simplicidade que se encontraram, partiram. Cada um para um lado, cada um para uma cidade. Se auto boicotaram porque sabiam que um dia iriam querer mais.

Ironicamente, resistindo à distância, ao afastamento e todas as intempéries do destino (ou do acaso), não perderam o contato. Falaram de músicas, de livros, e da preguiça em comum, e dos medos em comum. Eles já se conheciam, mas saber que estaria em poucas horas cara a cara com ele deixava Ana realmente insegura. Ela se culpava pela torta de chocolate que tinha comido de sobremesa no almoço e morria de medo que ele não sentisse aquelas coisas que só se sente quando está do lado da pessoa. E se isso acontecesse, a culpa seria da torta de chocolate!

5h30 da manhã. Rolou na cama se sufocando de saudade e confusão. Aceitaria de bom grado que ele aparecesse ali agora dizendo no seu ouvido que ela não precisa ter medo de nada. Sentiu vontade de ligar, mas continuou ali, deitada, vítima da própria insegurança. Tic-tac. O barulho do relógio agora parecia soar absurdamente alto, como se quisesse abafar os pensamentos que ecoavam pelo quarto. Folheou outra vez o livro na escrivaninha, olhou para o teto, pro chão, mais algumas vezes pros lados e encarou o celular estático. Sem conseguir controlar o impulso uma segunda vez, ligou. E com a voz trêmula, denunciando uma vontade de encontrá-lo tão imensa quanto a sua insônia, disse que sentia saudade.

Tentou manter a calma, para que ele achasse que ela era uma mulher controlada e madura, mas ele ria de seus medos e tentava convencê-la de que ficaria tudo bem. Ana fechou os olhos, então, tentando imaginar a boca do menino sorrindo do outro lado da linha e teve vontade de atravessar o telefeno e ir ao seu encontro. Quando desligou, o medo tinha sumido. Sabia que ia doer, mas ela queria.

6h da manhã. Olhou pela janela e viu que o dia estava amanhecendo. Fazia uma manhã fresca de inverno 'non sense' do Espírito Santo. Desperta, foi pra janela ver o sol nascer, desejou que aqueles 4 dias que passaria ao lado dele se multiplicassem e não se preocupou mais em dormir. Sabia que em algumas horas poderia deitar em cima daqueles lençóis brancos onde o menino se estica dando a idéia de sono profundo. “E que sejamos felizes agora, que é bem melhor do que pra sempre”. Destino ou acaso, que seja, ela sabia que de alguma forma tinha que ser assim. E com o coração explodindo, Ana fez as malas e foi, sem nem ao menos pensar como é que vai ser quando daqui há um mês ela quiser tudo outra vez...

[Continua...]

Um comentário:

Meg disse...

Ei!!!!
Bons olhos a aleiam.
Que bom!