terça-feira, 3 de agosto de 2010

Intra-ficção: Histórias escritas pra dentro mas que por ventura escapolem

"Minha saúde não é de ferro não, mas meus nervos são de aço. Pra pedir silêncio eu berro. Pra fazer barulho eu mesma faço" [Jardins da Babilônia - Rita Lee]

Eu não valia nada quando era criança.

Pra começo de conversa não gostava que me chamassem de criança, tinha que ser adolescente. O que no fundo não mudava nada, mas eu gostava assim. Tinha 16 anos. Criança. Naquela época eu queria ser jornalista, queria estudar teatro, ser gostosa, e já tinha escolhido o nome do filho que eu iria ter, junto com o cara que eu também já tinha escolhido. E eu teria dois cachorros e uma casa de praia na Bahia. Hoje, lamento dizer para aquela que fui aos 16, que não quero mais filhos e ainda não sou gostosa, mas continuo querendo a casa na praia da Bahia. Eu tinha certeza absoluta do filho, da profissão, do hobby e do cara - que quando eu decidi que não queria mais, me cobrou o futuro que eu havia prometido. Acontece que o tempo passa e nosso paladar vai se refinando e as coisas mudam de sabor. Não sou jornalista, não saco nada de teatro e não tenho espaço pra ter dois cachorros.

Ainda não valho nada - gostaria de dizer. E isso talvez nunca mude.

Mas, inevitavelmente, o paladar fica mais refinado, a tinta começa a secar enquanto você escreve, e de repente você deixa de amar sem que o amor (não) acabe. Desconstruí meus planos. Refinei-me. Virei professora (sem saber muito bem o porquê), tenho um bulldog carente que ronca toda noite no meu ouvido, e passei a procurar um amor que em um domingo ordinário me traga um sanduíche e leia o jornal enquanto eu escrevo. Não são esses os meninos que a gente pensa quando se tem 16 anos. Esses de agora são melhores - embora não importa o quanto nos digam isso. Amaldiçoar, então, tudo que já passou, cada situação que tirou de mim uma palavra ou um texto, não vai mudar muita coisa. Maldito seja! bendito seja! Que seja! não importa! Desde que seja sempre assim, uma eterna mudança de mim.
Mesmo que eu continue não valendo absolutamente nada!

2 comentários:

Hector Parente disse...

show!!!! eu tb naum valho um cuspe!! eu tb quero uma casa na bahia!!

Carol disse...

Você ta escrevendo cada vez melhor.
As vezes eu gasto uma boa parte do meu dia aqui lendo todos os textos que eu ainda n li!
rsrs...

beeijos Lilla!