segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Ana e Álvaro. Nem auto-ficção, nem intra-ficção: é intra-fricção!

- Eu adoro você, Ana – Disse Álvaro antes de dormir.

- Adora nada! Você nem me conhece direito. E Ana se virou pra olhá-lo nos olhos. Mas ele já tinha apagado.

Acordada sozinha, Ana tentou desviar o pensamento do que tinha escutado. Já tinham lhe contado histórias sobre ele. E repetiu pra si mesma, mais vezes do que gostaria, que para um homem como Álvaro ela poderia nunca passar de uma bonitinha com quem valha a pena uma trepada. Vencida pelo sono, acabou dormindo também.

***

Tempos depois, Ana estava de volta à casa de Álvaro. Ainda mantinha um pé atrás. Já tinha escutado histórias sobre ele. Mas apesar disso, disso e de ter latas vazias, cigarros e papéis escritos e amassados pela casa, Ana achava a companhia de Álvaro agradável. Algo na personalidade dele prendia sua atenção.

Aos olhos de Ana, Álvaro conseguia se variar entre rude e sensível, claro e escuro, sem perder uma única gota de autenticidade. Deixando-a sempre na dúvida sobre quem de fato ele era. E por sempre se questionar sobre isso, teve curiosidade de saber o que ele pensava sobre ela. O que vez ou outra, nos momentos de sensibilidade, mas sem clareza nenhuma, Álvaro deixava transparecer. Mas ela nunca perguntou.

Naquela noite, tempos depois da conversa constrangedora antes de dormir, Ana parecia nem se lembrar do que tinha acontecido. Andava de calcinha pela sala, à vontade e falando alto - na tentativa de ser ouvida por cima da musica que vinha das caixas de som. Falava sobre besteiras do seu dia a dia. E de como a sua vida às vezes lhe cansava. Ou por excesso de trabalho ou por excesso de diversão.

Achou que Álvaro não tinha prestando atenção em nada além da música no rádio, porque em resposta ao que ela disse, soltou – Você é muito lúcida né, Ana?!

E Ana sentiu o mesmo soco constrangedor na boca do estômago de quando Álvaro lhe disse que a adorava. E sem querer dar continuidade a conversa respondeu:

- Lúcida porcaria nenhuma, Álvaro! Meu racional às vezes é um fiasco, sou cheia de sentimentalismo barato, mulherzinha pra caralho!

Álvaro não achou um discurso muito típico de ‘mulherzinha’, mas preferiu ficar calado. Enquanto Ana mudava de roupa, juntava suas coisas e se despedia. Ela saiu correndo dali, pensando que não voltaria mais. Não se importava com a incerteza sobre quem Álvaro era, mas de uma coisa estava certa. Não queria competir com uma versão melhorada de si mesma, criada na cabeça de um cara. Até porque, ela já tinha escutado histórias sobre ele. E essa desculpa lhe bastava.

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