quinta-feira, 8 de julho de 2010

Tem sido bom, gostaria de dizer.

Do alto do 12º andar, na sala estrategicamente decorada em tons de marrom, silêncio. Quebrado apenas pelo farfalhar da cauda do cachorro, que espreguiça toda sua carência e apóia a cabeça no meu pé. A “folha” em branco na tela do computador já me desafiou mais do que nunca. Mas talvez agora que todos foram dormir e os amigos desistiram de chacoalhar a minha tela pedindo atenção, talvez agora, que o silêncio da sala e o cachorro carente são os únicos a me fazer companhia, eu consiga acalmar a percussão acelerada que existe dentro de mim, abafar esse eterno samba enredo que não se cala, e escrever um conto qualquer.

Acontece que tem momentos que escrever se torna confessional. E têm aquelas palavras que eu sempre juro nunca soltar assim como qualquer coisa. Mas que estão estampadas na minha cara. Não vê? Deixo na cara, nas minhas coisas, deixo meu cheiro, meu sorriso, meu jeito desajeitado, meus gestos e minhas guimbas de cigarro. Deixo tudo isso, e acaba parecendo que fiz questão de largar a vergonha escondida no armário. Mas eu juro que não foi proposital. E não foi. Proposital mesmo é o tempo que estou deixando ela por lá. Porque com a vergonha na cara fica difícil lidar com essa falta de controle que resolveu me tomar. Dá um pouco de medo. Não por me faltar controle. Mas por tê-lo perdido. Se é que um dia eu tive algum controle sobre isso. Acho mesmo que não. Afinal, eu não cheguei penteada, bonitinha, muito menos quieta. Não cruzei as pernas,não pensei no que falar, não alisei o cabelo e minha completa falta de jeito com tudo e meu cair pela rua sujando os joelhos estavam longe de serem charmosos.

Mas quer saber?! Nunca dei muita importância pra essas coisas. Mesmo que me falassem pra usar mais o racional. Racional porra nenhuma. Racional demais é pra quem tem espaço oco por dentro. E dentro de mim, eu guardo uma enorme percussão desenfreada, tocando um samba eterno, um barulho profundo, que não se cala. Que não me cala. Um samba enredo completamente irracional que te diz venha e eu te prometo amor eterno por toda essa noite, além de pés quentes e um chá pra melhorar a tosse. Venha, descasque seu rosário e questione minha moral, mas depois se afunda nesse edredom comigo pra que ninguém mais veja que no fundo você bem que me adora e que eu sou louca. Pra que ninguém mais veja que você bem que me adora (porque) eu sou louca. Um samba enredo irracional. Que de tão louco até falha na malícia. Mas e daí?! Viver é duro, mas no fundo, é uma delícia.

2 comentários:

Hector Parente disse...

é uma delicícia!

Lilla Mattos disse...

é uma delícia e eu sou LOUCA!!!! hahahahaha

Beijos Parente
;**