terça-feira, 6 de julho de 2010

Psychologist

Hoje você me doeu.
Cheguei e fui direto me sentar. O dia havia nascido cinza e agora, já pelas metades, começava a exibir um alaranjado degradé.
Sentada na minha frente, imponente, ela me olha com esse ar de quem me conhece por inteiro. Acende um cigarro pra soprar o tédio proposital pela janela e exibe uma cara de quem me espera desfiar rosários.
Sabe das minhas crises, da fobia pela qual eu esperneio, dos valores que não abro mão e do meu choramingar colo como menina mimada.
Ela me disseca, sentada do lado de lá da sala. Enquanto eu observo seu cabelo mal cuidado refletindo no laranja do sol. Me reescreve por partes, me documenta feridas e mexe onde eu não quero que doa.
Eu reclamo e ela diz que é preciso pra tratar o medo. Desisto. E reprimo em silêncio meu próprio pavor.Pensando que seria muito mais facil ter medo de escuro ou de baratas.
Malditos pássaros que não sabem voar!
Por conta deles, ela me aponta a vida crua, tão sobriamente real, tão cheia de casos e pessoas esquecidas atrás de lugares em mim que não deixo ninguém ver, e que ás vezes, nem eu vejo.
Só que hoje ela não vai saber de nada. Porque hoje você me doeu. E essa confusão é só minha. Você é (um problema) só meu.

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