sábado, 6 de fevereiro de 2010

2 alegrias: uma quando conhece outra quando se afasta.

Até o caminho de casa, o telefone tocou três vezes. Não atendi. Tomada por um sentimento de tristeza e confusão, entrei em casa e joguei o celular no fundo do armário da sala na tentativa de afastar da cabeça os pensamentos que aqueles telefonemas me traziam. Eu sabia que já não havia mais jeito. Sabia que não deveria seguir com uma amizade que me sugasse tanta energia. E sabia exatamente onde doía por não poder mais arrumar desculpas que encobrissem essa certeza. Eu havia arrumado formas para camuflar situações incomodas vinte, trinta, quarenta vezes. E um dia, subitamente, deixei de acreditar que valia a pena. A verdade estava clara demais para que eu a negasse. Não conseguia ver mais nada naquela pessoa além de uma insegurança desmedida que se transformava sempre em tentativas desesperadas de que o meio ao seu redor notasse a sua existência, mesmo que fosse vista negativamente ou que isso trouxesse imensa dor ao seu ego. E foi exatamente em função disso que nossas conversas se tornaram cada vez menos freqüentes. As palavras já estavam gastas. E certas coisas não mereciam mais ser ditas porque jamais seriam entendidas.
Sei que fará falta os dias em que a conversa fluía desgovernada, os segredos eram contados sem medo e os mais íntimos pensamentos postos a nu. Mas os exageros, o fascínio pela vida alheia e a busca constante por defeitos em todos que me cercam, invadiram meu espaço e não cabem mais em mim. Isso sem mencionar sua vontade cansativa de reviver a todo custo um passado do qual não se conforma ter sido excluída. E de lá do fundo do armário o telefone continuava a tocar, causando em mim uma aflição desconfortavel. Olhei desamparada para o sábado acontecendo por trás das janelas entreabertas e pensei que aquela compulsão lançava-a perigosamente próxima da zona que alguns convencionaram chamar de loucura. Por fim, desliguei o telefone. Já era hora de aceitar a verdade, enfrentar o desapego e ter de volta o meu espaço e o ar que respiro. Não me importa mais se ela perdeu a noção dos danos causados à própria vida e à de quem está por perto, nem sua imensa falta de respeito por si própria e nem a pitada extra de maldade ao falar da vida dos outros. Pode até fazer birra e dizer que não sinto sua falta. Mas eu sinto. Sinto muito... Sinto-me estupidamente aliviada!

5 comentários:

Gueixa disse...

Oi Lilla.
Ao ler seu texto congelei. Me pareceu que vc escrevia sobre um experiencia minha.Inacreditável.
Certas pessoas conseguem se aproximar da gente e nos sugar e ao mesmo tempo fazer com que a gente se sinta um ser privilegiado por isso.
Psssei por isso faz pouco tempo. Também se tartava de pessoa insegura. Também me sugava, por vezes me agredia e eu me sentia assim presa a essa criatura.
Foi dificil . Sei pelo que vc está passando. Ainda é dificil. Me costumei de tal forma a ouvri as suas queixas e lamurias. Bem.... bola pra frente!
Parabéns pelo texto, pelo dicernimento e pela capacidade de expressar tudo de forma absolutamente clara.
Ah...e obrigada.

Gueixa disse...

Outra coisa, meu teclado está uma porcaria....Desculpe as falhas. rsrsrs

Lilla Mattos disse...

Que isso....!!!! Muito obrigada pelo comentario!!

"Certas pessoas conseguem se aproximar da gente e nos sugar e ao mesmo tempo fazer com que a gente se sinta um ser privilegiado por isso." É EXATAMENTE ISSO!!!!!!

beijoca
;**

Anônimo disse...

Vejo que continua se livrando de "bagagem" indesejável :)

Barlez disse...

É verdade é exatamente isso as pessoas não tem vergonha na cara de mostrar realmente o q são e se esconde atraz de fantasias onde a água ja bateu na bunda a muito tempo mas tem preguiça ou ate mesmo vergonha de aprender a Nadar.

Grande abraço e continue a deixar o seu telefone na gaveta.

Esta LINDO o seu texto.

Elizabete Barlez