terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Aniversário!

"Você já reparou que ninguém deseja calma a ninguém, na época de desejar coisas? Deseja-se prosperidade, paz, amor, isso e aquilo ('tudo de bom pra você'), mas todos se esquecem de desejar calma para saborear esse tudo de bom, se por milagre ele acontecer, e principalmente o nada de bom, que às vezes acontece em lugar dele." [Carlos Drumond de Andrade - Os Dias Lindos, p.120]

21 anos...E eu enchi páginas em branco com minhas letras gordas, minhas linhas tortas, minhas frases soltas e ainda fiz questão de colocar minhas memórias em negrito. Escrevi dezenas de primeiros capítulos e não terminei nada de concreto. Mas continuei a escrever. Porque sempre funcionei em textos, mesmo quando me calei, quando perdi as palavras ou quando elas se perderam. Se é que palavras se perdem. Acho mesmo é que se vão por livre e espontânea vontade.

21 anos...
E eu quis todas as coisas. E esperneei por cada uma delas. Quis estojos abarrotados de canetas coloridas, que o Peter Pan fosse de verdade, que as coisas boas durassem pra sempre e que os amores fossem iguais aos do cinema. Mas só fui mesmo saber do amor quando ele já dividia comigo minha cama. Logo em seguida descobri uma saudade absurda e quando não agüentei mais, quis liberdade do apego, das expectativas e das ilusões. E fiquei assim até o coração sentir tanta falta que deixou transparecer, no espaço entre as frases feitas das noites de festas, que tudo que ele queria era colo outra vez.

21 anos...
E a idade nova trás a ânsia das coisas que ainda não vivi. E também a nostalgia das coisas que já fiz. Viajei, conheci gente nova, andei em baixo de chuva, tomei sorvete direto do pote, dancei como louca, cantei pra espantar demônios, passei no vestibular, larguei o Direito, virei professora e sonhei acordada. Fiz também muita coisa errada. Não soube esperar, perdi a cabeça, chorei fora de hora, falei mais do que devia, esqueci a lógica, ignorei meus sentidos, não vi os sinais de aviso, caí, sangrei e morri por amor. Mas fui lá e fiz! E é isso que importa.

21 anos...E eu não gosto que estranhos me toquem, mas gosto de abraçar os amigos, ganhar beijo nos olhos e andar de mãos dadas. Perdi o medo do escuro, mas o silencio ainda me assusta. Não tenho prática em decifrá-lo e é duro não sentir certeza - por mais que eu goste dos benefícios da dúvida. Desisti de acertar, de provar que estou certa, de me justificar - para mim mesma ou para os outros, e até de ter medo. Mas parei de escrever um livro pelo meio quando achei que pudesse ser processada por alguém próximo.

21 anos...
E olho pra trás e não me vejo, olho pra frente e ainda não cheguei lá. Sinto medo e esperança ao mesmo tempo. As contas começam a entrar por debaixo da minha porta e meus valores e meu caráter a serem cotidianamente julgados - afinal, não existe mais a desculpa da inocência. Mas ainda me é permitido sonhar. Então, mesmo em meio a tudo isso, eu tento. Tento abrir mão do apego à dependência e aprender a ficar mais sozinha. Tento ser melhor, mais justa e mais feliz. Se ainda não consegui, continuo tentando. Um dia eu acerto.

21 anos...
E tudo isso me faz sentir que estou começando a adquirir uma vantagem injusta sobre a menina que eu era.

2 comentários:

Unknown disse...

PARABÉNS!
Como é bom ser uma parte pequena desses 21 anos que você faz hoje! :)
Felicidades, sucessos! Que continue escrevendo e cantando com sua alma!
Felicidades, sucesso e muita paz!
Beijo!

Gabriel Campos disse...

A menina ou a mulher? Difícil escolher...mesmo com algumas "vantagens injustas" para um lado e para o outro.
Mas, como a menina já "era", só resta desejar uma vida longa a bela mulher que você virou, Lila.
Feliz aniversário.
bjao