sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Terceira lei de Newton:


Se te quero... Foges.
Se te ignoro... Vens.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Aniversário!

"Você já reparou que ninguém deseja calma a ninguém, na época de desejar coisas? Deseja-se prosperidade, paz, amor, isso e aquilo ('tudo de bom pra você'), mas todos se esquecem de desejar calma para saborear esse tudo de bom, se por milagre ele acontecer, e principalmente o nada de bom, que às vezes acontece em lugar dele." [Carlos Drumond de Andrade - Os Dias Lindos, p.120]

21 anos...E eu enchi páginas em branco com minhas letras gordas, minhas linhas tortas, minhas frases soltas e ainda fiz questão de colocar minhas memórias em negrito. Escrevi dezenas de primeiros capítulos e não terminei nada de concreto. Mas continuei a escrever. Porque sempre funcionei em textos, mesmo quando me calei, quando perdi as palavras ou quando elas se perderam. Se é que palavras se perdem. Acho mesmo é que se vão por livre e espontânea vontade.

21 anos...
E eu quis todas as coisas. E esperneei por cada uma delas. Quis estojos abarrotados de canetas coloridas, que o Peter Pan fosse de verdade, que as coisas boas durassem pra sempre e que os amores fossem iguais aos do cinema. Mas só fui mesmo saber do amor quando ele já dividia comigo minha cama. Logo em seguida descobri uma saudade absurda e quando não agüentei mais, quis liberdade do apego, das expectativas e das ilusões. E fiquei assim até o coração sentir tanta falta que deixou transparecer, no espaço entre as frases feitas das noites de festas, que tudo que ele queria era colo outra vez.

21 anos...
E a idade nova trás a ânsia das coisas que ainda não vivi. E também a nostalgia das coisas que já fiz. Viajei, conheci gente nova, andei em baixo de chuva, tomei sorvete direto do pote, dancei como louca, cantei pra espantar demônios, passei no vestibular, larguei o Direito, virei professora e sonhei acordada. Fiz também muita coisa errada. Não soube esperar, perdi a cabeça, chorei fora de hora, falei mais do que devia, esqueci a lógica, ignorei meus sentidos, não vi os sinais de aviso, caí, sangrei e morri por amor. Mas fui lá e fiz! E é isso que importa.

21 anos...E eu não gosto que estranhos me toquem, mas gosto de abraçar os amigos, ganhar beijo nos olhos e andar de mãos dadas. Perdi o medo do escuro, mas o silencio ainda me assusta. Não tenho prática em decifrá-lo e é duro não sentir certeza - por mais que eu goste dos benefícios da dúvida. Desisti de acertar, de provar que estou certa, de me justificar - para mim mesma ou para os outros, e até de ter medo. Mas parei de escrever um livro pelo meio quando achei que pudesse ser processada por alguém próximo.

21 anos...
E olho pra trás e não me vejo, olho pra frente e ainda não cheguei lá. Sinto medo e esperança ao mesmo tempo. As contas começam a entrar por debaixo da minha porta e meus valores e meu caráter a serem cotidianamente julgados - afinal, não existe mais a desculpa da inocência. Mas ainda me é permitido sonhar. Então, mesmo em meio a tudo isso, eu tento. Tento abrir mão do apego à dependência e aprender a ficar mais sozinha. Tento ser melhor, mais justa e mais feliz. Se ainda não consegui, continuo tentando. Um dia eu acerto.

21 anos...
E tudo isso me faz sentir que estou começando a adquirir uma vantagem injusta sobre a menina que eu era.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Presente de aniversário!

Ontem fui na casa dos meus avós comemorar com eles o meu aniversário que está próximo. Minha avó, agitada e ansiosa, me deu seu presente logo quando cheguei. Já meu avô, velhinho e extremamente calmo, não me deu nada. Ao invés disso, sentou do meu lado e começou a conversar. Pensei em como meus avós são pessoas diferentes e perguntei a ele como eles conseguiam manter um casamento há tantos anos. Me olhou meio de lado, sem entender direito o motivo da pergunta, e contou que certa vez foi ao supermercado e viu um pêssego “vistoso”, grande e que aparentava extremamente suculento. Por ser sua fruta preferida, ficou ansioso pra comê-la. Procurou na pilha outro tão bonito quanto aquele e não encontrou. Comprou então o pêssego suculento e um outro que além de menor, não tinha o mesmo aspecto do primeiro. Em casa, lavou a fruta e quando já estava com a faca na mão, desistiu. Trocou pelo pêssego menor, deixando o outro na geladeira para minha avó, mesmo sabendo que ela nem ligava tanto assim pra pêssegos.

Terminada a história, vovô se levantou – com a cara sorridente - e saiu. E me deixou ali, sozinha, pensando mais naquela cara sorridente do que nos pêssegos em si. Isso porque aquele sorriso me fez resgatar lembranças da época em que eu morava com ele. Era o mesmo sorriso que estampava seu rosto quando eu e minha irmã éramos crianças e adorávamos ouvi-lo contar a história do “Joãozinho canelinha de ferro” – que ele mesmo havia inventado. Ele era mais forte naquele tempo, fazia exercícios, e sempre nos levava junto quando ia caminhar na praia. Durante o percurso o repertório era o mesmo, a gente pedindo e ele contando a história do menininho que tinha canelas de ferro. E no final a gente sempre ganhava um dinheirinho para o picolé.

Alguns minutos depois vovô voltou. Me viu deitada no sofá, assistindo TV e ele, magrinho, achou um lugar para se sentar ao meu lado. Olhou para mim com a mesma cara sorridente: “Me faz um favor?” - falou, pegando alguma coisa no bolso. “Faço vô, pode falar”. Respondi já imaginando ter que ir à padaria comprar um refrigerante ou coisa parecida. “Toma o dinheirinho do picolé e compra um presente pra eu te dar de aniversário?”. Disse com a cara mais marota que se pode esperar de um senhor de quase 80 anos.

O dinheirinho do picolé se transformou numa blusa linda que fiz questão de mostrar para ele: - Aqui, vô, o presente que o senhor me deu!.

- Ihh! Boniiita!

Meu avô é mesmo uma gracinha... ^^

* Réplica das assinutaras do meu avô e da minha avó.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

"Na realidade, não seria isso o Éden, meu caro senhor: a vida bem engrenada?" [Camus]

Felicidade que transborda e me escorre pelos poros. Imensa mas mansa. Tão calma que me apresenta uma espécie de paz desconhecida. Paz suprema. Somada com a certeza de que tudo ta bem. O emprego vai bem, as férias prolongadas da faculdade vão bem, a cabeça e o coração também. Nada de brigas, nem mesmo com a balança - o que já garante uma satisfação bastante rara. No fundo no fundo, não é tão difícil assim esquecer a ansiedade e fazer as pazes com o que é calmo. Talvez um dia eu aprenda a viver sempre assim. Em harmonia com o mundo e com o meu mundo. Como quem encontra o ritmo certo para a batida do coração e controla o fluxo do ar que entra e que sai. Talvez, um dia, eu aprenda. E descubra o silencio como forma plena de comunicação. E comece a aceitar apenas a parte que me cabe. Por enquanto me transbordo de felicidade. Imensa, mansa e que me escorre pelos poros.

"Gozava minha própria natureza e todos nós sabemos que é aí que reside a felicidade, embora para nos tranquilizarmos mutuamente, demonstremos, por vezes, condenar estes prazeres sob o nome de egoísmo." [Albert Camus - A Queda, p.17]

sábado, 6 de fevereiro de 2010

2 alegrias: uma quando conhece outra quando se afasta.

Até o caminho de casa, o telefone tocou três vezes. Não atendi. Tomada por um sentimento de tristeza e confusão, entrei em casa e joguei o celular no fundo do armário da sala na tentativa de afastar da cabeça os pensamentos que aqueles telefonemas me traziam. Eu sabia que já não havia mais jeito. Sabia que não deveria seguir com uma amizade que me sugasse tanta energia. E sabia exatamente onde doía por não poder mais arrumar desculpas que encobrissem essa certeza. Eu havia arrumado formas para camuflar situações incomodas vinte, trinta, quarenta vezes. E um dia, subitamente, deixei de acreditar que valia a pena. A verdade estava clara demais para que eu a negasse. Não conseguia ver mais nada naquela pessoa além de uma insegurança desmedida que se transformava sempre em tentativas desesperadas de que o meio ao seu redor notasse a sua existência, mesmo que fosse vista negativamente ou que isso trouxesse imensa dor ao seu ego. E foi exatamente em função disso que nossas conversas se tornaram cada vez menos freqüentes. As palavras já estavam gastas. E certas coisas não mereciam mais ser ditas porque jamais seriam entendidas.
Sei que fará falta os dias em que a conversa fluía desgovernada, os segredos eram contados sem medo e os mais íntimos pensamentos postos a nu. Mas os exageros, o fascínio pela vida alheia e a busca constante por defeitos em todos que me cercam, invadiram meu espaço e não cabem mais em mim. Isso sem mencionar sua vontade cansativa de reviver a todo custo um passado do qual não se conforma ter sido excluída. E de lá do fundo do armário o telefone continuava a tocar, causando em mim uma aflição desconfortavel. Olhei desamparada para o sábado acontecendo por trás das janelas entreabertas e pensei que aquela compulsão lançava-a perigosamente próxima da zona que alguns convencionaram chamar de loucura. Por fim, desliguei o telefone. Já era hora de aceitar a verdade, enfrentar o desapego e ter de volta o meu espaço e o ar que respiro. Não me importa mais se ela perdeu a noção dos danos causados à própria vida e à de quem está por perto, nem sua imensa falta de respeito por si própria e nem a pitada extra de maldade ao falar da vida dos outros. Pode até fazer birra e dizer que não sinto sua falta. Mas eu sinto. Sinto muito... Sinto-me estupidamente aliviada!