sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Querido Freud,

"Who can say if I've been changed for the better?
I do believe I have been changed for the better.
Because I knew you:
I have been changed for good!"
[For Good - Wicked The Musical]
Ando freqüentando minhas sessões de terapia com a religiosidade de uma carola. Sempre rebatendo um pouco minha terapeuta e tentando provar coisas improváveis. Sabe, eu sou cabeça dura, mas a 'bichinha' é esperta e sempre consegue virar o jogo. Mais ainda, ela vira o jogo no minuto final, com a pontualidade de quem ta acostumada a fazer bagunça com a cabeça dos outros. E te faz voltar pra casa com o cérebro formigando. Hoje, depois de uma hora inteirinha sentada na minha frente me ouvindo contar histórias vividas milhões de anos luz atrás - todas com tom de romance de Best-seller - me perguntou: Por que as coisas do seu passado nunca estão no passado? Qualquer pessoa menos complicada do que eu, ou mais manipulável talvez (vai saber?!), entendesse aquilo como “Passado é uma coisa, presente é outra e futuro ainda outra”. Mas eu te disse, sou cabeça dura. E quando cheguei em casa fui direto abrir a caixa de Pandora guardada no fundo do meu armário. Meu arquivo de memórias. Minha coleção de papel. Espalhei tudo pelo chão e fui garimpando, procurando aquelas cartas já conhecidas e algumas letras familiares. Entre elas uma porção imensa de cartas que eu mesma escrevi e nunca mandei. Li essas também, pra poder ver sobre o que se tratavam e julgar se fiz certo ou não em guardar aquelas palavras só pra mim – não lembro de nenhuma que não tenha me deixado aliviada por não ter sido enviada. Conheço todos aqueles papéis e fiz questão de separar os que machucam mais e ter certeza de deixá-los dentro da caixa. Perdi horas ali, sentada no chão do meu quarto, misturada a álbuns do “Amar é...”, bilhetes que ganhei de pessoas que eu nem sei mais onde estão, cartinhas assinadas com os mais variados apelidos (que eu não faço idéia de quem são), juras de amor, promessas de amizades eternas e até um bilhete do meu pai dizendo que tinha ido viajar, mas tinha deixado carne no congelador. Revê-los é como rever a mim mesma - ainda que com algum mau humor pelas ingenuidades cometidas. Acontece, que não me basta olhar a obra final sem pesquisar o processo de criação. Gosto de olhar pra trás. Ver todo o processo. Lembrar do que passou até chegar aqui. Se é assim, condene também quem viveu seus 20 e poucos anos na década de 60 e ainda se emociona ouvindo os Beatles cantando “All you need is love”. Talvez a nostalgia seja o único sentimento que nos faça ter menos culpa pelos nossos excessos, ainda que sejam clichês patéticos. Confesso que depois sempre fica uma saudade enorme, uma vontade de ter dito, feito, ouvido, sentido um pouco mais. Mas o que seria de nós sem uma dose extra de saudosismo? Então julgo ter o pleno direito de revisar as minhas marcas inúmeras vezes se assim desejar. "A troubled cure for a troubled mind". Ver as coisas que eu podia ter feito e não fiz me lembra que ainda tenho um bom tempo pela frente pra poder enfim fazê-las. E acaba que no fim, eu abençôo as memórias, fecho a caixa, agradeço por estar viva e ser exatamente como sou. Marco um chope ás 23h com as amigas e aceito as ironias da vida sem querer saber das cicatrizes do passado. Deixo, então, a resposta do por que do meu passado nunca estar no passado, por sua conta. Afinal, são quase 23h e eu tenho compromisso marcado...

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei, como sempre. Vou comentar muito não porque acabei escrevendo um post por causa do seu, despois lê lá. Obrigado pela inspiração.

P.S: como foi o chopp? =)

Anônimo disse...

Lívia,
nostalgia, saudade, falta e tudo mais faz parte de todos nós. Precisamos fazer sempre uma recaptulação do que ja passou, pra podermos nos orgulhar do que fizemos ou até mesmo pra poder mudar o que não ta legal. Mas não da pra poder viver sem conseguir separar o que é passado presente e futuro. Se os 3 fossem um só não seriam denominados com tres diferentes nomes, certo?! Lembre do passado e preveja o futuro, mas não deixe o presente de lado!
No mais, continuo lendo tudo que escreve. E sempre me encanto com suas palavras "demasiada humanas".

Estou ansioso por um proximo texto!!
abraços