segunda-feira, 3 de maio de 2010

Levitação

Marcava 2 da tarde quando acordei naquele domingo de céu azul e vento frio. Na cozinha, o cheiro de café denunciando que o resto da casa já estava de pé. E lá embaixo a cidade que não da trégua. Um cenário comum e rotineiro. A tirar o céu azul e o vento frio, todo o resto era uma repetição fiel de grande parte dos domingos que já haviam se passado. O quarto estava mergulhado em uma sombra fraca fornecida pelas cortinas de linho, que permitiam que jatos de luz penetrassem pelas laterais e iluminassem exatamente o lugar do meu travesseiro. Me custou ainda alguns minutos até que conseguisse recolher um pouco de coragem e levantar. Vencida pela claridade, já de pé, joguei a falta de jeito no chão, alonguei de leve algumas partes do meu corpo e aproveitei pra chegar o rosto na janela. Atrás do blecaute da cortina - que já não tinha mais utilidade alguma – fazia uma tarde linda. Linda e fria.

Depois de cobrir os pés com um par de meias, tentei me imaginar aquecida. Recriei na memória as imagens da noite anterior e a felicidade espontânea e sadia trazida pelas risadas com as amigas. Uma delas é amiga recente, a outra dos tempos de criança. Dos tempos em que brincávamos de pique e assistíamos filmes de terror com a boca cheia de pipoca e com as pernas enroladas no edredom, pra afastar o frio e o medo. Época boa! – pensei. Mas a passagem dos anos também tem suas vantagens. Alguns ficam mais belos, outros mais sábios. Uns amadurecem, outros parecem ficar mais jovens com a idade que chega. E aos poucos todos nós formamos família, não só de sangue. Mas de pessoas que nos querem bem, que nos acompanham e que são memórias vivas da nossa história.

No meu caso, pessoas que vasculham minha vida, meus livros, minhas músicas, minhas comunidades do Orkut e dizem que não tem nada de bom por lá. E não há, mas eu gosto. E se eu gosto elas aceitam. “Deve prestar”. Pessoas com lembranças em comum para piadas que ninguém mais entende e que apesar de serem as que mais apontam, são também as que mais toleram meu jeito estabanado de criança que cresceu muito rápido e não coube mais no próprio corpo.

A tarde de domingo estava linda de enjoar atrás do blecaute da cortina. Dentro de casa, o vento frio cheirava a café fresco. Recolhi minha falta de jeito jogada no chão, consertei a postura e fui pra cozinha encontrar a família. Pensando que tanta felicidade assim realmente não cabe dentro de mim. E que só preciso disso. Disso e de um carinho na nuca.
E ai, talvez, eu saia levitando.
Pelo céu azul
Levada pelo vento frio
De uma tarde de domingo.


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Para todas as amigas que fazem da minha vida algo mais leve.

2 comentários:

Unknown disse...

Tinha tempo que nao escrevia hein...
Sei bem como é isso!
haahaha :)
I miss you a lot!!!
Beijao li!

Unknown disse...

ooowww..

you are so cute!

*.*

bjooo