sábado, 5 de junho de 2010

“Madame Bovary c´est moi”, dizia Flaubert.

Um começo de manhã ainda sem sol. Os meus livros desarrumados pelo quarto e os lençóis da cama ainda fora do lugar. Alguma coisa ali não estava combinando bem. Os livros eram meus, os lençóis desarrumados também. Mas aquela bagunça toda estava me incomodando. Como se fosse reflexo de algo que eu não conhecia. Até porque, não combinava com a disciplina organizada em que eu venho tentando manter a minha vida. Prendi os cabelos, dobrei as mangas da camisa e resolvi colocar ordem no lugar. O resultado foi um armário limpo, a cama bem feita, as prateleiras com livros organizados e um blogger repaginado.

Sim sim, aproveitei pra fazer algumas mudanças no blog. Depois de deixá-lo 2 semanas fora do ar, e de sair daqui correndo com medo e achando que nunca mais iria conseguir escrever outra vez. Voltei com uma proposta nova e mais colorida. Isto porque alguns amigos sempre apostavam que estavam lendo textos autobiográficos por aqui, e em resposta eu dizia que minha vida não era tão interessante assim. Preferia chamar de autoficção. Ou em outras palavras, falsa verdade de mim mesma.

A nossa memória é um arquivo repleto de ficção, armazenamos coisas da forma que queremos. Fantasiamos nossas experiências, com direito a trilha sonora e tudo mais. E o que soa como confissão pessoal é na verdade uma grande efabulação de memórias e sentimentos. Quando não uma livre criação de uma realidade alternativa. O que talvez venha a ser mais um desabafo do que um texto.

“Madame Bovary c´est moi”, dizia Flaubert. Ou Lobato quando assumiu que a boneca Emília era um retrato dele mesmo. E as questões dos bloggers, dos diarios virtuais - que só diferem daqueles diários que carregávamos em baixo do braço porque à publicação vem somada a vaidade - é que as memórias expostas são transformadas em literatura, sem permitir que o leitor consiga identificar quando está lendo algo real. Estou nas minhas personagens. Fato. Nas masculinas inclusive. Mas a verdade mesmo, é que elas nem se quer existem. Por isso o blog virava um drama, como numa peça de teatro ou num conto sem pretensão. O que escrevia era reflexo daquilo que gosto de ler. Reflexo das cambalhotas que Fernando Pessoa, Caio Fernando e mais alguns outros dão dentro da minha cabeça. E do meu estômago. Escrever pra poder sentir. Sentir nas entranhas.

Hoje, vendo por outro lado - depois de ter o quarto arrumado - comecei a achar que já estava na hora do eu-lírico voltar a trabalhar. Reconheço minhas limitações. Escrevo só porque gosto. E isso dista muito da perfeição literária. Ok, posso não levar tanto jeito assim pra coisa, mas preciso escrever. Escrever sempre. Como uma atividade compulsiva. Só que, felizmente, sem estragos desta vez...

"These words I write keep me from total madness"
[Charles Bukowski]

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