terça-feira, 1 de setembro de 2009

E meu lençol não tinha mais seu cheiro mas meu armário ainda tinha suas roupas...

Despertara? Não sabia ainda. Sentia muito frio, isso sim. Pisquei o olho e encarei por alguns minutos o teto do meu quarto. Estava realmente frio e só por isso resolvi levantar. Meio cambaleando caminhei até o armário e sem prestar muita atenção, puxei uma blusa de manga qualquer de dentro da gaveta. E foi só depois de vesti-la que percebi que não era uma blusa minha. Era blusa de homem. Dei de ombros. Talvez fosse uma das inúmeras peças de roupa do meu pai que veio na mala quando vim morar com minha mãe. Enquanto eu me esticava espreguiçando, vi pela janela que fazia manhã de sol apesar do vento frio. Graças a Deus não vai chover.

Foi quando eu já estava na cozinha preparando uma xícara de café, que minha mãe entrou e perguntou que roupa era aquela que eu estava usando. Ela já estava acostumada a me ver andando pela casa de cueca e samba-canção, ou qualquer outra peça de roupa dos meus ex-meninos (e isso inclui meu pai), mas mesmo assim sempre perguntava por que eu insisto em usá-las e em guardá-las como bibelôs do meu passado. Enquanto me fazia essas perguntas, veio em minha mente o nome do dono da, agora minha, blusa. Fiquei atordoada com a repentina lembrança, mas disfarcei. Respondi que pra mim eram pedaços de pano e mais nada. E que essa história de “bibelôs” não tinha o menor fundamento. MENTIRA. De fato algumas dessas peças são, realmente, só pedaços de pano confortáveis e bons para usar dentro de casa. Mas aquela camisa em especial tinha tempo que eu não via. Ficou guardada no fundo da gaveta tão esquecida quanto o verdadeiro dono dela.

Sem que minha mãe visse, cheirei a manga pra ver se encontrava, impregnado nela, o cheiro de algum perfume. Tinha cheiro de roupa guardada. E nada mais. Claro que depois de tantos anos - quase 4 anos pra ser mais especifica - esquecida no fundo do meu armário, ela só poderia estar cheirando a velho. E foi ali, na cozinha da minha casa, vestida com a camisa com cheiro de velho, que eu parei por alguns segundos pra contemplar o passado. Lembrei do namoro que, enquanto durou, cumpriu seu papel. E isso, agora, já não tinha mais a menor importância. Pensei na minha devoção e no amor imaturo e desmedido. E senti saudades. Não só dele, mas de quem eu era naquela época. E pensei no que aquela menina diria se me visse hoje. De certo me olharia bem no fundo dos olhos e diria, com a voz mais imponente que conseguisse produzir, que de nada adianta a vida se não amarmos ninguém, menos ainda se não amarmos para sempre. E eu a pegaria pelas mãos e – mesmo sabendo que ela não entenderia, optaria em alertá-la. Responderia que de nada adianta a vida se não soubermos seguir em frente, ainda que com o coração partido.

Minha mãe continuava na cozinha, agora falando sobre uma dieta nova que estava pensando em fazer. Balancei a cabeça e sorri, deixando-a que achasse que era um sorriso em resposta àquela conversa – que na verdade eu não tinha prestado muita atenção. Mas eu sabia que eu tinha sorrido um sorriso diferente. Não desses que se da a alguém, e sim desses que se dá pra você mesmo. Sorri pra dentro. E me senti feliz. Demorei tanto pra expurgar de dentro de mim esse passado, e agora o próprio passado ressurge vários anos luz depois, pra me mostrar que entre trancos e barrancos ele valeu a pena. Acordei sentindo frio. E puxei uma blusa de manga qualquer de dentro da gaveta. Uma blusa com cheiro de velho que ressurgiu não só pra me fazer sorrir pra dentro. Mas também pra me mostrar, em alguns segundos em que parei pra contemplar o passado, que o melhor da vida é o tempo!

3 comentários:

Blog Dri Viaro disse...

Boa quarta feira :)
bjs

Unknown disse...

É...o tempo! ...Sempre ele!

Beijo!

Grazy disse...

Eu tb tenho nostalgia,as vezes..

Acontece qd eu vejo fotos antigas;(