Confesso não ter me animado muito pra levantar da cama quando abri um único olho, poupando o outro da claridade, e vi que a meteorologia não estava querendo cooperar comigo e tinha mandado mais um dia nublado e quente – daqueles que faz chover a noite. Mas maior do que a vontade de ficar deitada era o calor que estava fazendo. Eu suava tanto que voltar a dormir seria uma tarefa impossível. O cabelo colado na nuca suada, a boca com gosto de travesseiro e a franja em pé, arrepiada como a de um pica-pau. Ao lado da cama, o cinzeiro vazio. Essa nova onda antitabagismo tem me motivado a largar o cigarro. Levantei. E quase uma hora e meia se passaram quando eu, finalmente, terminei a maratona acordar - tomar banho - por uma roupa - tomar um cappuccino – sair de casa – me arrastar até o ponto de ônibus.
Foi difícil, mas pra dar uma ajuda o ônibus passou no segundo seguinte que cheguei no ponto. Entrei agradecendo a alguma força divina pela sorte, e fui me sentar no canto da janela desses bancos mais altos que tem em ônibus. Me distraí olhando as pessoas que passavam pela rua – como quem olha vitrines sem olhar vitrines - e acompanhei o trajeto já conhecido. Só voltei a prestar atenção ao que acontecia no interior do ônibus quando uma pessoa sentou do meu lado. Um rapaz estranhamente belo, ou, belamente estranho. Não soube dizer qual era a ordem correta. Só sei que alguma coisa nele me atraiu a ponto de me deixar desconcertada, sem saber onde pôr as mãos ou para onde olhar.
Ele usava uma camiseta com o escrito: “Engenharia Civil”, um all star branco tão surrado quanto o meu, um boné escondendo o cabelo bagunçado, mochila nas costas e um maço de cigarros na mão. Deve ter uma namorada fofa e peituda que estuda odonto. O suficiente para se tornar o mais novo homem da minha vida. Olhei pra mim mesma condenando meu desleixo matinal e preferi virar o rosto e continuar olhando as pessoas do lado de fora. Olhando vitrines sem olhar vitrines. De repente me vi de mãos dadas a ele. E imaginei como a vida seria. A gente combinaria e formaria um casal feliz e minhas roupas teriam uma gaveta só pra elas no armário dele e ele perderia horas conversando sobre engenharia com meu avô enquanto eu ensinaria a irmã caçula dele a falar inglês. E ele daria risada da minha falação desesperada e a cama ficaria mais quente e ele roubaria meu edredom e eu o acordaria de noite reclamando da insônia ou dos chutes noturnos dele e pediria que perdesse o sono junto comigo. E ele deu o sinal, levantou e saltou do ônibus, enquanto eu permanecia ali tensa, invisível e apaixonada. Ele se foi e nem notou que acabava ali a nossa linda história de amor.
Depois de quase perder o ponto em que eu deveria descer, cheguei na faculdade pedindo colo pras amiga e dizendo que estava me recuperando de um relacionamento intenso. Desisti da idéia de assistir a primeira aula. Sentei na cantina e fiquei ali, parada, me recuperando. Foi quando me deparei com um sujeito de jeans, camisa xadrez amarrotada (aposto que ele tinha acabado de acordar) e havaianas nos pés. E comecei a olhar pro nada, com olhar de quem vê vitrines sem ver vitrines...
Foi difícil, mas pra dar uma ajuda o ônibus passou no segundo seguinte que cheguei no ponto. Entrei agradecendo a alguma força divina pela sorte, e fui me sentar no canto da janela desses bancos mais altos que tem em ônibus. Me distraí olhando as pessoas que passavam pela rua – como quem olha vitrines sem olhar vitrines - e acompanhei o trajeto já conhecido. Só voltei a prestar atenção ao que acontecia no interior do ônibus quando uma pessoa sentou do meu lado. Um rapaz estranhamente belo, ou, belamente estranho. Não soube dizer qual era a ordem correta. Só sei que alguma coisa nele me atraiu a ponto de me deixar desconcertada, sem saber onde pôr as mãos ou para onde olhar.
Ele usava uma camiseta com o escrito: “Engenharia Civil”, um all star branco tão surrado quanto o meu, um boné escondendo o cabelo bagunçado, mochila nas costas e um maço de cigarros na mão. Deve ter uma namorada fofa e peituda que estuda odonto. O suficiente para se tornar o mais novo homem da minha vida. Olhei pra mim mesma condenando meu desleixo matinal e preferi virar o rosto e continuar olhando as pessoas do lado de fora. Olhando vitrines sem olhar vitrines. De repente me vi de mãos dadas a ele. E imaginei como a vida seria. A gente combinaria e formaria um casal feliz e minhas roupas teriam uma gaveta só pra elas no armário dele e ele perderia horas conversando sobre engenharia com meu avô enquanto eu ensinaria a irmã caçula dele a falar inglês. E ele daria risada da minha falação desesperada e a cama ficaria mais quente e ele roubaria meu edredom e eu o acordaria de noite reclamando da insônia ou dos chutes noturnos dele e pediria que perdesse o sono junto comigo. E ele deu o sinal, levantou e saltou do ônibus, enquanto eu permanecia ali tensa, invisível e apaixonada. Ele se foi e nem notou que acabava ali a nossa linda história de amor.
Depois de quase perder o ponto em que eu deveria descer, cheguei na faculdade pedindo colo pras amiga e dizendo que estava me recuperando de um relacionamento intenso. Desisti da idéia de assistir a primeira aula. Sentei na cantina e fiquei ali, parada, me recuperando. Foi quando me deparei com um sujeito de jeans, camisa xadrez amarrotada (aposto que ele tinha acabado de acordar) e havaianas nos pés. E comecei a olhar pro nada, com olhar de quem vê vitrines sem ver vitrines...