
Conheço o tamanho do poder das palavras. E como a Lo pediu. Resolvi parar 10 minutos antes de ficar bonitinha para sair e escrever um texto. Um texto feito pra acalmar o coração de uma amiga e aproveitar pra dizer a um amigo querido que fez aniversário por esses dias o quanto ele é importante na minha vida.
Difícil escrever assim por encomenda. Tentei alguns começos, apaguei, comecei mais algumas vezes e nada. Peguei um cigarro (ainda to tentando parar, mas também não da pra parar de vez né?!), andei até a janela e fui ver o movimento. A tentativa de largar o cigarro e os remédios pra dormir, que o médico me receitou, tem me feito viver menos entre cigarros e xícaras de café nas noites de insônia. Só me restou, então, buscar inspiração no mundo do lado de fora da minha janela. Olhei a rua como se fosse a primeira vez que a visse. Dei mais um trago e me senti inútil por não conseguir largar o vicio. Tentei imaginar o que escrever para acalmar o coração da amiga que está em casa derrubada por uma virose. E ainda no que escrever pro amigo que está km e km longe de mim, mas tão perto do coração que sinto como se um pedaço do coração dele batesse dentro de mim, juntinho ao meu.
Parada assim, na janela, olhando o mundo la fora, consigo ver o mundo aqui dentro de mim. Acho que ver as pessoas em movimento me da a sensação de que estão todos seguindo seus caminhos e que o mundo está bem. E se la fora ta tudo bem, é preciso, então, começar a arrumar o que está aqui dentro. Entender o momento. Entender o sentimento (ainda me mantenho nessa luta). Entender os porquês das coisas que tem porquês. E lembrar das coisas que não tem porquês só pra sentir o gostinho do inexplicável mais uma vez. Queria escrever pra acalmar o coração de uma amiga, pra dizer prum amigo como é gostosa a sensação de sentir sua presença mesmo ele estando anos luz de distancia. Mas de tanto olhar la pra fora buscando inspiração acabei vendo o que está aqui dentro. Aqui dentro está tudo confuso, está tudo uma bagunça. Porque parece que estou fadada a viver um tipo de Karma.
Digo isso pensando nos amores que tive. Todos com ares de “ter tudo pra dar certo”, e no final não dão. Todos eles. Uma sucessão de falta de sintonia. É sempre assim, eles chegam vêem de perto meu formigamento e minha pressa de vida. Se assustam com os buracos que minhas asas fazem em minhas blusas, mas acabam por aceitar o desafio. Pegam na minha mão e tentam me fazer diminuir o ritmo. Acontece que dou passos largos, e aos poucos eles precisam acelerar os passos se quiserem continuar ao meu lado sem soltar as mãos. E saem correndo comigo, e se acostumam com toda a inconstância que eu apresento. Só que chega uma hora que eu canso. Não deles, mas de amar a mil por hora. Não que eu não vá acelerar meu ritmo novamente, mas há momentos em que tudo que quero é me enroscar no colo de alguém e manter meus pés quentes durante a madrugada. Mas quando eu que fico cansada procurando um amorzinho calmo são eles que têm sede de tudo. E já não se contentam mais em ver meus momentos de tédio de perto. E saem por aí fazendo com que as pessoas se apaixonem perdidamente por eles, para depois se cansarem delas, e partirem então para uma nova história de amor fulminante que durará 60 minutos. Uma sucessão de falta de sintonia. Algo parecido com aquela história onde “primeiro ele a queria e ela nem dava bola, depois ela o quis e ele não quis mais. Ai quando ela desistiu, ele voltou a querê-la”. (Conhece essa historia?!).
E de repente surge um novo alguém, um novo sentimento, um novo contrair de dedos, e tudo aqui dentro fica confuso. E eu deveria escrever um texto que não falasse sobre meu próprio umbigo nem sobre uma espécie de maldição que me persegue. Mas meu coração já foi vasculhado e posto de cabeça pra baixo e por isso acho que não consigo. A janela está aqui escancarada na minha frente mostrando que as pessoas continuam indo, que o mundo continua indo, e que eu, que tenho formigamento e pressa de vida, não posso parar por medo de um karma maldito que me persegue. A janela ta escancarada e do lado de fora tem a Lo com quem eu falo sempre que preciso de suporte. Uma amizade nova, mas que parece existir desde 1930. Tem o Gui, que andou fazendo aniversário e que apesar de eu ficar anos e anos sem vê-lo, afirmo indubitavelmente que um pedaço do coração dele bate dentro de mim. Ele dá suporte a minha alma. Então que esteja uma desordem, que a casa esteja vasculhada, lá fora tem o mundo que segue bem e as pessoas que seguem seus caminhos.Tem minha amiga que apesar da virose continua atenciosa, carinhosa, emotiva, passional e assustadoramente parecida comigo e o amigo querido que é único no mundo, tem jeito de artista e ainda cede um pedaço dele pra morar dentro de mim.
Parada assim, na janela, olhando o mundo la fora, consigo ver, agora, que não se pode amar nada no mundo com a mesma intensidade que amamos as pessoas que nos fazem bem, e aí, o karma em que estou fadada a viver começa a parecer pequeno. E no fundo talvez o seja.