segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

27 no 23

 “O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.” (Graciliano Ramos)

Enfim, é ano novo. Meu ano novo, meu recomeço, meu zerar do cronometro, o retorno da Lua progredida à posição do meu nascimento.  Meus 27 do agora ou nunca, meu grito na cara da maldição do clube dos 27 ou a certeza tardia de que não sou tão virtuosa assim - pelo contrario, comecei errado! Tive a ousadia de nascer no Carnaval e fazer silêncio. Batuque, Samba, marchinhas, tamborim e eu não quis fazer barulho. Quisera minha mãe ter conseguido prever que eu já anunciava aí que não teria escapatória, eu iria fazer tudo do meu jeito!

Acontece que quem nasce no carnaval não tem vocação pra ser discreto. Nossa primeira impressão do mundo é colorida, musicada, cheia de sorrisos e quando descobrimos que a vida não é bem assim, rola um choque, entende?! E talvez por isso eu tenha crescido e virado uma mistura de amor e caos. Talvez por isso, nunca nada tenha sido leve. E certamente por isso a vida sempre me pareceu uma grande festa - E você sabe que a festa foi boa vendo o tamanho da ressaca!

Eu sou a ressaca do carnaval, a quarta feira de cinzas e a vontade de querer sempre um pouco mais! E ai, não importa se os novos dois dígitos me assustam, não importa se o retorno de Saturno vem iluminado pela Lua cheia, não importa se não consigo levar meus amores menos a sério e muito menos que essas coisas não vão me passar impunes, ou que nunca passarão! Por mais que eu bata os pés e peça que pare, que eu corra, mude de casa, de cidade e de país, a verdade é que isso não faz interferência alguma na velocidade em que minha idade me alcança!   

27 anos e respirar parece ser pouco, mas é só o que importa. 27 anos e eu precisei mudar pra um lugar que não é meu só pra tentar achar, dentro de mim, aquilo que ainda me falta. Aprender a colocar os cacos de vidro do copo e do coração dentro do lixo e não voltar mais pra buscar! É mais fácil comprar um copo novo e manter o coração (e a cabeça, vale lembrar) no lugar e deixar que as coisas se acertem sem que eu precise enfartar!  27 anos e é só isso que eu preciso. A aquisição definitiva da autonomia do sentir, e saber voltar, quando necessário, ao silêncio confortável de quando eu nasci. O silencio que anunciou, precocemente, que eu iria fazer tudo do meu jeito! E que eu fiz!