quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Vício por vício, eu larguei o cigarro.

Volto depois de uma semana fora sem saber como ela está. Com que cara, que cheiro, que clima, que humor ou se sentiu minha falta.

Volto e ganho de presente meia hora de passeio turístico, enquanto esperava autorização para pousar.

O sol se pondo sobre mim. E ela lá embaixo exibindo suas ruas, sua gente, sua orla e um jeitinho manso de cidade em férias.

Me lembrei de quantas vezes pensei em deixá-la. E me questionei porque eu ainda não fiz.

Por causa do vício imaturo por dependência, eu acho.

Ir já valeria só por poder me fazer sentir o prazer de voltar. De me sentir em casa. De me sentir.

E, lá em cima - tomada por uma ansiedade infantil de quem quer deitar na própria cama e sentir seu próprio cheiro impregnado pelos cantos do quarto - me emocionei por estar de volta. Depois de uma semana fora. Com outra cara, outro cheiro, outro clima, outro humor. E com a certeza de que senti mais a falta dela do que ela a minha...


sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Pasárgada...

Ganhei um bilhete de primeira classe pra Pasárgada. E estou indo pra lá. Onde se tem de tudo e a existência é uma aventura.
Trabalhar um pouco e descansar um pouco também. Rever grandes amizades - que sobrevivem à distância. Ser amiga do rei e deitar na cama que eu escolher.
Vou me embora pra Pasárgada. Que aqui não sou feliz. De lá vou embalar meu passado e mandar num sedex pra Terra do Nunca. Ter um pouco de férias da cidade natal. E depois voltar pra Vitória com a cara boba de tranqüilidade pós-caos.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Querido Freud,

"Who can say if I've been changed for the better?
I do believe I have been changed for the better.
Because I knew you:
I have been changed for good!"
[For Good - Wicked The Musical]
Ando freqüentando minhas sessões de terapia com a religiosidade de uma carola. Sempre rebatendo um pouco minha terapeuta e tentando provar coisas improváveis. Sabe, eu sou cabeça dura, mas a 'bichinha' é esperta e sempre consegue virar o jogo. Mais ainda, ela vira o jogo no minuto final, com a pontualidade de quem ta acostumada a fazer bagunça com a cabeça dos outros. E te faz voltar pra casa com o cérebro formigando. Hoje, depois de uma hora inteirinha sentada na minha frente me ouvindo contar histórias vividas milhões de anos luz atrás - todas com tom de romance de Best-seller - me perguntou: Por que as coisas do seu passado nunca estão no passado? Qualquer pessoa menos complicada do que eu, ou mais manipulável talvez (vai saber?!), entendesse aquilo como “Passado é uma coisa, presente é outra e futuro ainda outra”. Mas eu te disse, sou cabeça dura. E quando cheguei em casa fui direto abrir a caixa de Pandora guardada no fundo do meu armário. Meu arquivo de memórias. Minha coleção de papel. Espalhei tudo pelo chão e fui garimpando, procurando aquelas cartas já conhecidas e algumas letras familiares. Entre elas uma porção imensa de cartas que eu mesma escrevi e nunca mandei. Li essas também, pra poder ver sobre o que se tratavam e julgar se fiz certo ou não em guardar aquelas palavras só pra mim – não lembro de nenhuma que não tenha me deixado aliviada por não ter sido enviada. Conheço todos aqueles papéis e fiz questão de separar os que machucam mais e ter certeza de deixá-los dentro da caixa. Perdi horas ali, sentada no chão do meu quarto, misturada a álbuns do “Amar é...”, bilhetes que ganhei de pessoas que eu nem sei mais onde estão, cartinhas assinadas com os mais variados apelidos (que eu não faço idéia de quem são), juras de amor, promessas de amizades eternas e até um bilhete do meu pai dizendo que tinha ido viajar, mas tinha deixado carne no congelador. Revê-los é como rever a mim mesma - ainda que com algum mau humor pelas ingenuidades cometidas. Acontece, que não me basta olhar a obra final sem pesquisar o processo de criação. Gosto de olhar pra trás. Ver todo o processo. Lembrar do que passou até chegar aqui. Se é assim, condene também quem viveu seus 20 e poucos anos na década de 60 e ainda se emociona ouvindo os Beatles cantando “All you need is love”. Talvez a nostalgia seja o único sentimento que nos faça ter menos culpa pelos nossos excessos, ainda que sejam clichês patéticos. Confesso que depois sempre fica uma saudade enorme, uma vontade de ter dito, feito, ouvido, sentido um pouco mais. Mas o que seria de nós sem uma dose extra de saudosismo? Então julgo ter o pleno direito de revisar as minhas marcas inúmeras vezes se assim desejar. "A troubled cure for a troubled mind". Ver as coisas que eu podia ter feito e não fiz me lembra que ainda tenho um bom tempo pela frente pra poder enfim fazê-las. E acaba que no fim, eu abençôo as memórias, fecho a caixa, agradeço por estar viva e ser exatamente como sou. Marco um chope ás 23h com as amigas e aceito as ironias da vida sem querer saber das cicatrizes do passado. Deixo, então, a resposta do por que do meu passado nunca estar no passado, por sua conta. Afinal, são quase 23h e eu tenho compromisso marcado...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Quando ELE conta um conto...


“Ana era excessivamente branca. Aliás excessivamente tudo. Falava demais. Ria demais. Era nova demais. Bebia demais. Fumava demais. E me queria demais. E nessa noite me abraçava e mordia minha orelha. Seu jeito de falar obscenidades no meu ouvido era estranhamente carinhoso. Como quem pedia amor pra saciar um vicio. Saciar a vontade de ser amada. E fazia sentido. Porque eu sabia que queria me dar. Mesmo que fosse amor e carinho.

Quando saí de cima dela, meio sem jeito e meio cansado, deitei e dei de cara com meu reflexo no teto. Me senti intimidado com o que via. Meu corpo nu, revelando pêlos, linhas e curvas - cada traço do meu corpo. Ainda bem que Ana estava ao lado. Tão nua e com seus traços tão à mostra quanto os meus. Suas enormes coxas brancas atraíam meu olhar e me faziam esquecer o reflexo da minha carne exposta no teto. Não era estéticamente perfeita, era excessivamente branca. Mas era charmosa e tinha uma tatuagem.Tatuada por fora e por dentro também, tenho certeza! Enfim, não era magrela mas era gostosa, nos lugares certos.

Alguma coisa naquela mulher me intrigava. Talvez fosse o resquício de uma meninice exposta e imatura que ainda lhe restava que me fazia querer vê-la por dentro - ainda mais do que eu tinha visto nesta noite. Ou talvez fosse pura vaidade egoísta de vê-la me olhando com cara de besta e sorrindo pra mim como se eu fosse o poeta maldito do século, enquanto eu juntava meia dúzia de palavras bonitinhas e contava sobre minha vida e meus graus acadêmicos.

Virou-se, apoiou a cabeça em meu ombro e passou a mão sobre meu peito em mais um gesto de carinho entre os tantos que sofri naquela noite. Falou de como “é completamente mapeada por cheiros” e em resposta àquela conversa senti o cheiro de motel misturado ao cheiro de sexo. Dois odores inconfundíveis. Que misturados ao cheiro dela, ao meu cheiro nela,a todas aquelas palavras e todo reflexo no espelho, me fez querer "vê-la por dentro" mais uma vez. Não podia negar que ela era bela. E com os cabelos amassados, os peitos contra o colchão e de costas pra mim era ainda mais bela.

Desta vez, saí de cima dela realmente cansado. Um ato indesejado, sem dúvida, mas precisava tomar um banho e ir. Ana, numa reprodução hollywoodiana, acendeu um cigarro. Consome cigarros como consome clichês e pessoas. Só mais uma em minha cama e só mais uma na multidão de fumantes pós sexo. E eu as consumo. Elas e as palavras. E pra tê-las em minha cama, falo de amor. Um amor vivido por elas. Com elas, aliás. Pelos bares e seus apartamentos de estudantes de 20 e poucos anos que moram sozinhas por causa da faculdade, têm seus livros espalhados pelo quarto e fumam depois do sexo.

Dois banhos depois. Um dela e um meu. Me vesti, paguei a conta e como já não me restava mais nada a fazer, acendi também um cigarro. Mesmo sabendo que venho tentando evitá-los. Ela falava, fumava e me olhava. E eu pensando como seria bom um pouco de silêncio enquanto eu fumava meu único cigarro da noite. Deve ter lido meu pensamento porque se calou na mesma hora. E consumiu seu cigarro me consumindo com olhar. E eu o meu apenas como cigarro que era...”

domingo, 3 de janeiro de 2010

"Eu só queria dizer"

Tinha esquecido como era acordar cedo. Sendo bom ou não, às 6 da manhã é o unico horario do dia que consigo ouvir os passarinhos da janela...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

2010 então...

Passamos o reveillon querendo milhões de coisas mas o ano seguinte sempre chega sem muitas mudanças. E quando acordamos, toda vontade de mudar o mundo já acabou. É 1º de janeiro e quero mesmo andar sem rumo, cega, chorando angustia, colecionando sorrisos e conhecendo novos lugares. Preciso rir mais e esquecer um pouco os problemas. Pra poder deixar de ouvir o eco das palavras vazias. E deixar de seguir um padrão político e social que não combina nada comigo.Por enquanto, tento não me sufocar com a vida que levo. Mas talvez, um dia, eu bata minha cabeça inúmeras vezes na parede, até trocar a cegueira por aprendizado. Nada de utopias. Simplesmente não me encaixo ao lugar a que pertenço, não combino com nada, nem ninguém por aqui. Só que eu aprendi cedo a gritar, a defender minhas verdades e a olhar além, sempre além. Acontece, que no meio de tantas meias palavras e tantas besteiras ditas com exacerbada importância, quem acaba se calando sou eu. Me calo e me recolho à solidão do meu quarto e dos meus livros. E a solidão - que costumo detestar tanto quanto a quietude - passa a ser maravilhosa, essencial, rara e me faz recuperar a força! Sonhar em encontrar uma forma de libertar de mim os bons costumes e o grito preso na garganta. E manter ao lado aqueles que aceitam meu falatório compulsivo, meus bicos, minhas péssimas piadas, minhas sobrancelhas franzidas por pouca coisa (por quase nada), minha gargalhada absurdamente alta e minha confusão desajeitada.
Por isso escrevo. Escrevo e consigo traduzir a parte de mim que fica escondida. Traduzo a parte que sou quando as coisas não vão bem, a parte que fala alto, gesticula e que pensa que não há nada mais aprisionador do que uma junção de crenças inúteis e falsos valores morais.