terça-feira, 25 de agosto de 2009

(in)dependência


Chego para dar minha aula carregando o peso das minhas responsabilidades. O dinheiro que acabou antes de acabarem as contas. O carro que está quebrado e por isso tenho que esperar por horas no ponto de ônibus. A menina de cabelo ruivo, sempre preso em maria-chiquinha, que anda me dando trabalho. E a falta de motivação que me assolou nesta terça-feira fria.

Chego, e ao cruzar o portão, o porteiro me grita. Professora Lívia. Não ouvi e continuei andando. Ele repetiu agora mais alto. Professora Lívia! Olhei pra trás com a sensação de “ficha caindo”. Acho que tinha escutado da primeira vez, mas meu cérebro não armazenou a informação, não percebeu que era comigo. Isso porque foi a primeira vez que ouvi alguém – fora de sala de aula - me chamando de professora. E o fato de ter acontecido nos pátios da escola em que eu tinha sido aluna por tanto tempo, mexeu profundamente com minha emoção (e com meu ego). Recebi o recado e fui andando em direção à sala onde eu daria aula.

Com o arquivo da memória prontamente acessado, lembrei da época em que estudei ali. Dos professores que elogiavam largamente minha inteligência e ao mesmo tempo a condenavam em função da minha preguiça. Lembrei de como era um sacrifício para eu acordar às 7 da manhã na época do segundo grau, e de como o vestibular me assustava. Mas tudo isso tinha passado, e agora voltava ali ocupando o cargo de professora. Professora Lívia.

Apesar do orgulho inflando meu peito, confessei - para mim mesma - ter outros planos pra minha vida. Ser professor no Brasil é uma tarefa para poucos. E a baixa remuneração é o menor dos nossos problemas. Mas apesar de ter outros planos, do peso das responsabilidades, do dinheiro que anda faltando e do carro quebrado, ainda existe a menina de cabelo ruivo, sempre preso. A menina tem me dado trabalho. Mas a menina é daquelas molecas, que cai, chora muito e se levanta balançando as marias-chiquinhas e mostrando o quanto é forte. Fazendo brotar em mim, em uma terça-feira fria, um apreço imenso.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A voar, a voar, a voar!

"Ela lhe contou histórias, ele a ensinou a voar..."


Me lembro de ter me apaixonado loucamente, quando criança, pelo Peter Pan. O do desenho animado mesmo. Com aquele nariz torto e ar tinhoso! Adorava o fato dele não querer crescer, o que – na minha cabeça de criança - significava dizer que ele teria pra sempre a minha idade. Sim, eu achava que seria eternamente criança. Peter Pan era valente e engraçado. E conseguia voar. Mas era daquele nariz torto e daquele jeito tinhoso que eu gostava! Eu ficava ali, vidrada na televisão, me imaginando no lugar da Wendy, vivendo um romance com Peter, querendo, mais do que ter uma babá como a cachorra Naná, dar uma bica na Sininho e morrendo de medo do Capitão Gancho – que naquela época era um personagem malvado e não um antecedente mal feito do Jack Sparrow.

O tempo passou e outros narizes tortos e ares tinhosos foram aparecendo na minha vida. Alguns deles até me fizeram achar que podia voar. Mas, como que por uma maldição lançada por um Peter Pan ciumento que ficara esquecido no meu passado – eles também não queriam crescer. À medida que eu ia crescendo (não só no tamanho) os meus Peters insistiam em se manter infantis e rodeados de garotos perdidos. Isso quando não resolviam viajar até a ‘segunda estrela à direita, direto até o amanhecer’ ou sabe-se lá pra que parte do mundo. E exatamente como a Wendy, que no filme opta em deixar seu amor pra crescer, eu tive que os deixar para que eu pudesse crescer.

Alguns anos mais tarde, assisti novamente ao desenho. E, sem a inocência que eu tinha quando criança, descobri que Peter queria mesmo era que a Wendy pudesse fazer o papel de mãe e contasse histórias para ele e os garotos perdidos. E que seu grande amor na verdade era a Filha duma p*** da Sininho. Não preciso dizer que a vontade de dar uma bica na fadinha, que eu tinha quando criança, triplicou depois disso! Era o fim. Declarei morto e enterrado o meu romance secreto com Peter Pan. Ele que ficasse lá pela Terra do Nunca e me deixasse em paz!

E assim ficou até ontem, quando o menino maroto de nariz torto reapareceu na minha televisão. Desta vez, na continuação do filme – Peter Pan, de volta à Terra do Nunca – que eu nunca tinha visto. Eu sabia que existia uma versão hollywoodiana do filme, mas nunca tive muito interesse em assistir. Agora, que existia uma continuação em desenho, com aquele mesmo Peter de desenho animado antigo e com a roupa com uma nuance só de verde, exatamente como o da minha infância, eu não sabia! Confesso que meu coração bateu entusiasmado quando reencontrei, sem que eu esperasse, Peter Pan. O mesmo entusiasmo que a gente sente quando reencontra um amor do passado e fica curioso pra saber pra onde a vida o levou.

Assisti colada na televisão, da mesma forma que fazia quando criança. O filme tem uma mensagem bonita. Trata da importância de mantermos viva a nossa imaginação. Bacana, mas eu estava mesmo era esperando que acontecesse o reencontro entre Wendy e Peter. E ele aconteceu. Nem podia acreditar no que estava vendo. Uma Wendy adulta, mãe de família, reencontrando o menino que se negara a crescer. Claro que foi só um encontro casual. Um olhar daqui e um sorrisinho dali. Nada mais. Peter reapareceu de surpresa pra Wendy, assim como reapareceu, ontem, para mim. E da mesma forma que veio, voltou para a Terra do Nunca - com a (eterna) Sininho do lado. Deixando Wendy e eu para trás, na janela, suspirando. Nunca cresça e apareça quando eu menos esperar, Peter Pan...

P.S: a TPM e a irritação passaram, mas continuo tomando porres de nostalgia todos os dias. Ah! E também continuo monotemática, mas não dou mais a mínima pra isso.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Medo

Porque o monólogo não é mais assustador do que o saber que se é lido...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

".. porque também na minha casa, hoje, nenhuma cadeira continua como estava ontem, pois eu já não sou o mesmo." [Dostoievski - Noites Brancas]

Ainda to de TPM, ainda to ansiosa, ainda to agitada e agora além de tudo to irritada por me sentir monotemática! Não consigo pensar em escrever sobre outra coisa que não seja amor, dor de cotovelo, café, insônia e cigarros. Vejo os primeiros posts que escrevi aqui e adoro! Por que não consigo mais escrever daquela forma? E também nem sei se alguém além da minha mãe lê isso aqui, na verdade, nem sei se minha mãe lê! Um blog sem comentários ou monotemático é um monólogo e eu dificilmente me interesso por eles. Não to interessada nele! Não por agora. Agora eu só to interessada em amor, dor de cotovelo, café, insônia e cigarros...

sábado, 1 de agosto de 2009

Por que não me avisou antes, Aristóteles?!

Ontem fez noite de chuva. Odeio chuva. E como de costume, estava sem sono. Ando me sentindo muito sentimental. O que é perigoso. Mulher fica burra quando está sentimental. E pra completar acabei de entrar na TPM. Mais burra do que mulher sentimental em época de TPM, impossível! E já que mais uma vez eu iria fazer companhia às longas horas da madrugada, fui procurar algo pra ler. Eu estava tão agitada, tão ansiosa, e tão sem motivo pra isso que decidi que naquela noite de insônia não sentiria nem cheiro de café. Precisava era ler algo menos existencial, menos romântico, menos poético, menos maldito, menos boêmio, menos Caio Fernando Abreu, menos Bukowski, menos Gabriel Garcia Marquez, menos Nietzsche, menos Álvaro de Campos (F. Pessoa), menos Dostoievski e principalmente menos Vinicius. Reneguei todos os meus grandes ídolos. Precisava de algo que fortalecesse meu racional e não meu emocional. E por isso, só por isso, resolvi ler um pouco de Aristóteles. Há quem diga que todo intelectual que se preze já leu Aristóteles, Platão e companhia ateniense, grega e macedônia limitada. Não sou intelectual. Nunca li nenhum deles - Confesso. Nunca tive muita paciência, na verdade. São filósofos, cientistas, físicos, teólogos, professores, pintores, escritores e sabe-se lá mais o quê, tudo ao mesmo tempo. Informação demais pra mim. Na minha cabeça (e dentro da minha ignorancia no assunto) tudo se resume na tentativa de provar que a salvação do mundo está na razão. Ontem, eu, que não uso a razão pra nada, resolvi encarar. E com o nariz meio torto comecei a dar meus primeiros passos rumo ao momento mais intelectual da minha vida. Li sobre a relação entre Aristóteles e Platão, sobre a moral, a teologia, política, psicologia e mais um monte de coisa que eu só passei o olho. E acabei encontrando algo que realmente me inspirou. Despertando todo o sentimentalismo que eu tinha deixado de lado naquela noite. Aristóteles disse: "o ideal do amor é a amizade em excesso". Meu coração até bateu mais rápido. Fiquei alguns minutos digerindo essa informação, e teria ficado mais alguns se os malditos pingos de chuva batendo na janela não tivessem me distraído (queria saber quem foi o asno que disse que barulho de chuva ajuda a dormir). Quis continuar lendo, na expectativa de encontrar nas palavras de um filósofo que a salvação do mundo era o amor e não a porcaria da razão. E depois de algumas horas nessa medida de um pra um - um parágrafo chato pra um parágrafo sensacional – descobri que no fim da vida Aristóteles, como um belo de um vira-casaca, disse: "amigos, não há amigos"! Meu estomago revirou, minha cabeça pesou, a ansiedade ressurgiu como um furacão e a maldita TPM me fez sentir vontade de chorar. Desliguei o computador e fui deitar. Sentimental, burra e de TPM. Por que não me avisou antes, Aristóteles?!